terça-feira, 7 de setembro de 2010

Cena

Disfarçara teu sorriso pelos cantos dos lábios; As mãos inquietas, hora sobre a perna, hora atrás da nuca, hora uma atrelada à outra observando o anel que nela havia. Parecia como querer contar algum segredo. Parecia incerto nas mãos, mas parecia muito certo no olhar, olhar que encarava-me diretamente aos olhos.
Como se a vida fora descoberta ali, como se o mundo fizesse sentido a partir daquele momento. Enquanto apenas observava os teus movimentos, a vida girava à minha volta. O coração mais vivo, fazendo todos os seus movimentos, mais acelerado... e mais e mais. Essa coisa de coração é mesmo complexa de dizer. Nunca acreditei que pudera sentir o coração sobre as mãos novamente; As pernas trêmulas; Lentamente as mãos inquietas, e eu somente querendo parecer interessante. Querendo trazer a curiosidade para o teu mundo, para o mundo fundo. Não acreditava mais que esse coração aqui tivera ainda tanta força para pulsar, e pulsar descontrolado, como se saísse às pressas para ver se era verdade tudo que via e tudo o que sentia. Enquanto controlava-me para não deixa tão exposto tudo que estava ali dentro, pois era vergonha deixar vestígios do efeito causado.
Essa coisa do coração, do controle – e descontrole, deixava-me incerta, deixava tudo sorrindo, como se só aquilo bastasse para existir, como se só aquilo ou isso importasse. Como se só o coração existisse. E simplesmente pegava-me sorrindo pelos cantos dos lábios ao olhar-te fortemente aos olhos vivos, que também me olhava, sentia como se o olho do mundo estivesse à mim e somente para mim, observando com sua calmaria. E tudo ficava somente sorrindo, simplesmente sorrindo, de alma livre, inquieta, liberta, como uma cavalaria que cavalga livremente no campo, sem direção, sem rumo, somente cavalgando e somente sendo a cavalaria no campo. Era coisa de alma intocável e ao mesmo tempo tocada pelas pontas de teus dedos, até tocar-me inteiramente com a palma de tua mão larga.
Essa coisa de controle emocional nunca acontece quando realmente precisamos ter o controle, de saber o que é emoção e o que realmente é somente emoção; e a vida fica totalmente burguesa, só querendo sentir; só querendo sentir. Mesmo que não se saiba bem o quê, e até mesmo por que, mas entrega-se calmamente ao nexo.
Essa coisa do querer o desconhecido, de descobrir o intocável ao meu corpo e aos meus sentimentos, fazia-me deixar com frios na barriga intermináveis. Frio que calava a boca e travava as mãos, e fixava apenas os olhos ao que era incerto: a você.
E levo a saudade sem sabe ao certo o porquê se nada e nunca tive. Só sei que era o sentimento que me domava e me guiava para direção de lugar algum. Tento agora, cantar, distrair, querendo parecer viva, assim de bem. Esse pouco que sobrou, alimenta a alma desencantada pelos cantos da cidade impura. Tento no meu sonho somente manter o puro. Tento na pureza manter o sonho.
Essa coisa de emoção e dês-emoção; Boquiaberta fiquei quando tua mão tocou a minha. Você queria parecer me chamar à atenção; e paralítica – semi-paralítica foi o máximo que pude ser e ficar. Foi lá, quando eu segurava o papel em minhas mãos e ia em voz doce e atenta lendo ao enunciado. Minha mão esquerda segurando a folha branca, a mão direita dando apoio a não sei o quê, mas lá estava, apoiando, e tão distraída ao mundo adverso que estava e tão atenta as letras que seguiam o itinerário preciso da leitura, das palavras, da colocação e você, inventa a cena: Tua mão logo toca a minha mão como num susto que se leva quando algo inusitado acontece, nos surpreende, nos faz parar... e você segura minha mão ali, no breve susto dito, você toca tão suave, tão intenso é teu tocar. Pousa suavemente e de propósito deus dedos largos sobre a minha mão fria que segurava a folha. Você que a partir de agora segura a folha que passou a ser tão branca, tão pálida, as linhas, as palavras perdem sentidos, perdem seu rumo; segura forte a folha sobre a minha mão. Tua mão macia, como se ousasse segurar a folha, ou direcionar aquele mundo segura minha mão; O mundo pára naquele instante, e apenas respirar eu pude. Queria minha face frente a tua, queria teus olhos junto aos meus, queria teus lábios, mas apenas respirar eu pude. E olhava bem para ver se era verdade. O olho do mundo. E era verdade, e somente respirava.
Naquela sala, queria é mesmo esquecer dos corpos que nos cercavam para explodir minha ansiedade por você. Olhava o teu gesto, e parecia já querer amar, como coisa não tocada mesmo, como à primeira emoção, e sentia como se já conhecia do amor desde quando o vi ali, naquela porta ao entrar, e ao seu modo de observar as coisas e todas as outras coisas; Olhava o teu gesto e já sentia a paixão desconhecida, a paixão conhecida e já sabia que no final ficaríamos unidos como o toque da sua mão sobre a minha; simplesmente assim. O mundo sempre é simples quando olhamo-los bem assim, simples na maneira de ser mundo. Mal pude conter minha alegria e o inusitado me acontece: você ... que tão forte e intenso me olha, com esses olhos que Deus fez, que por pecado tão grande e tão belo, consegue me deixar tão menina e tão mulher. Você olhava, você falava com seus olhos, como se os olhos pudessem falar. E não é que teus olhos castanhinhos falavam. Entendi teu mundo ali, e continuei respirando – observando – e respirando.
Já podia imaginar meu corpo ao teu, junto ao meu suspiro ofegante querendo apartar toda a urgência do mundo. Sentia o toque de tua mão deslizando, segurando e acariciando minha vértebra, minha cintura, meu quadril, e num piscar dos olhos, já entregue a tua boca num único libido, num único desejo, de simplesmente permanecer ali, como se o mundo fosse somente esse, como se o mundo fosse somente para isso sem memórias ou lembranças passadas, como histórias de contos de era uma vez que por vezes parecem nunca terem fim.
Essa coisa toda complexa que ei de existir, pelos cantos de nosso corpo, e de nossa mente. Nunca foi forte falar dos sentimentos que sempre estavam encasulados, encaixados em caixinhas bem pequenas e pequeninas, carregando-as assim de forma discreta, bela, porém discreta – escondida às pressas e presa num extraordinário de sonhos e sempre sonhos, tive a surpresa do toque de tua mão sobre a minha descobrindo do mundo encantado do desejo, do simples e puro – puríssimo desejo. Por que era só o que sabia querer, era só o que sabia pensar, depois da mão sobre a mão, ela logo deslizava sobre o resto do corpo, e se prenderia entre meus cabelos longos, e longos... Teu suspiro baixinho no canto do meu ouvido. Teu suspiro baixinho no canto de meu ouvido. Tua voz forte e doce, que mundos tão complexos – tão completos, e você logo já era você em e mim e eu em você, cena criada por você; era assim, era só fixar o olhar.