terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sem Anúncio

Não adianta mais fazer anúncios. Não adianta mais gritar; Nem falar.

Se respirar fosse pago, eu não respiraria há muito tempo. Há muito tempo.
Aqui, do quarto andar durante o dia; E aqui do quinto andar durante a noite carrego uma bexiga cheia de sangue no pescoço. Se eu pudesse correr como antes. Subo e desço as ruas me procurando nas esquinas, nos prédios. Ofegante subo escadas, as rampas; Corro para o ponto de ônibus, corro da chuva, me escondo do sol; Corro, e não saio do canto. Sem encantos, não canto nem encanto mais. Um copo de café. No copo de café, minha esperança. No mesmo copo, o vinho. Disseram que mal não faz. Nesse copo a lembrança. Parece que foi ontem: a foto que fizemos. Desperdiço meu tempo. Meu raro tempo para o s outros. E sem desafeto.. O tempo passa. Naquele bar, pra me deixar em pé à falta de assunto me mantêm. A falta de assunto mantém a todos vagos, razos por todos os lados. Não adianta mais fazer anúncios dos buracos que tenho aqui. Dos calos que tenho aqui. Buracos e calos nas mãos, nos pés, nos olhos, no coração e na alma. Alma cheia de calos, e toda esburacada. As janelas do quarto e do quinto andar. As altas janelas dos prédios são tudo que vejo encima de mim e a frente de mim. E dentro de mim, você olhando pra mim. Você quem? Você que não quis ficar. E “corro ansiosamente à espera” do nada. Mais uma vez: o nada. Não adianta mais fazer anúncios se o Doutor diz; se o Chefe diz; se a Amiga diz. Doutores, chefes, amigas, Deus, me diz! Me diz: *Como é que se diz... feliz?



(*Frase do amigo Macaya.)