segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Essa mania de estar no mundo. Oras, e não é assim? Só estar e somente ser mundo; e somente viver? Mas calados, de lado do que se sonhou um dia estamos. A esmo, na eloqüência de qualquer impaciência. Essa mania de acreditar nas coisas das coisas e de todas as outras coisas. Queria mesmo é que você conhecesse dessa minha vida cá, e quisesse sonhar os meus sonhos. Sonhar um sonho meu; tão pequeno e tão grandioso. Não pense mesmo que a pessoa tem tanta força assim a ter essa vida, e continuar a mesma. As palavras se perdem, as mãos umedecem, o coração apenas pulsa. Essa mania de ser, e ser, sabe. Tudo apenas é, mas nas armadilhas e encruzilhadas de minhas próprias palavras e meus próprios sentimentos vou sendo essa vida aqui, tão urgente para o mundo que sufoca à todos que nela passa. É sublime, é encantador, mas como quando se cavalga com pressas com o cavalo passam os sentimentos por essa alma. E é sempre assim, essa mania... e quase quatro anos me transformaram muito; Amor versus desamor. Queria aprender do amor como criança aprende a caminhar, mas não há lição, não há manual, não há nada que mostre quando o amor é amor. Mas amor apenas é. Essa minha fúria pelo mundo sempre ama antes de qualquer coisa. Antes dessa vida morna que muitos a tem, quero a euforia, quero sentir tudo, gastar toda a vida e o mundo até que não se sobre nada. Ao modo contrário, juro por Deus que devemos é de deixar de suceder com a comodidade da alma. A certeza do fim, já temos; A única incerteza é de quando tudo se inicia. Quando que tudo se iniciou? Tudo se ridiculariza, me torno ridícula, sou ridícula... acabarei ridícula. Essa mania de viver verdadeiramente, profundamente, unicamente, e é esse meu único meio de viver.

domingo, 24 de outubro de 2010

O espaço

O vento passa pela janela esvoaça as cortinas claras e rendadas. Exatamente enquanto o moço alto, esguio, com uma boina posta na cabeça segue a rua cumprida bordada de árvores. Parece como se o vento o levasse e guiasse sem direção exata. O chá sobre a mesa esfriando. Mas tem cheiro de café também seguindo e circulando a casa oriunda; O papel amassado ao lado do chá; foi ele que causou o silêncio intenso na casa. A casa ao lado nada se ouvia. O vento continuava a circular, a girar. Rodando e rodando como se botasse do seu ar o distinto silêncio camuflado naquilo que desorganizado pode vir.
Exatamente enquanto flores roxas e amarelas são regadas no jardim da casa da frente pelo Sr, e avô Batista, uma mulherzinha com saltos finos, cabelos alisados e roupas de cores em tamanha concordância passa com o desespero e com lágrimas nos olhos. Segue também em direção ao vento. A mesma direção que o rapaz esguio e de boina segue. A aranha no telhado da casa mil seiscentos e vinte e sete, para de trabalhar sobre sua teia ao sentir os passos fortes e barulhentos dos saltos da moça. O vento passa, indica; Sacode todas as folhas da árvore seca que dá no fim da rua. O vento arrepia o corpo da criança que vê o avião passando. A bola de futebol no canto da garagem observa as plantas no vaso ao lado direito, que remirem água.
Enquanto todo esse movimento acontece, ela não volta para tomar o café.
O vento com sua força e significância, leva o papel amassado ao chão de madeira. Há marcas de sapatos ali sobre o chão. São marcas firmes e largas também. Era uma certeza: ele esteve ali, e o que indica o papel amassado, pela última vez.
O avião já passou; A criança levou seu olhar até onde pôde para ver que rumo ia-se dar. E chegava a conclusão de que ia dar no fim do mundo – lá no fim e mais alto fim do mundo. E lá no sentido sul fim do mundo, era justamente a direção que o moço de boina ia. A força dos sentimentos. O vento parecia rir como se tudo lhe pertencesse. Ninguém se queixava. Mesmo quando não havia vento, ninguém se queixava além dela. E se tivessem posto a carta na porta de entrada da casa, talvez o cheiro do café não estivesse presente, e talvez, o chá não esfriaria por que não haveria o porquê de fazê-lo. E talvez, o esvoaçar das cortinas fossem diferentes, e talvez, a aranha nem se quer teria o trabalho de parar o seu belo rendado no canto da casa. Se soubesse o que ia acontecer lá fora, Sr Batista deixaria suas belas flores murcharem com sua natureza. Leva-me contigo, era o que ela pensava e derramava em forma de lágrimas. Como se pudesse, arrependida do seu passado, só conseguia se ver no futuro, com seu amor. Sem ele, o mundo era destrutivo, maldoso e nada serviria para nada. Estava cega. Cega e sozinha. A adolescente na janela aberta de teu quarto obscuro procurava um sentido. Sentiu-se infeliz ao ver a mulherzinha tão arrumadinha passando pela calçada abaixo. Ora, ora, é tempo de rezar, agradecer a Ele de alguma forma. Mas todos só sabiam existir. Ué, e não é só isso – Existir apenas, e basta. Mas a menina adolescente era sozinha demais para existir; isso era o que pensava. E ia a mulherzinha, seguindo. Ela andava como se a rua estivesse cheio da gente e multidão, e somente manter o olhar para baixo sabia, estava também vazia.
Estará curada quando acordar amanhã. Seu consolo era cada passo que dava. O moço de boina estava metido no sonho que não era teu. Sentiu o vento arrepiar os pêlos de teu corpo. Estava cego, deixou a carta sobre a mesa, ao lado da xícara de chá enquanto seu amor passava o café. Não teve coragem de olhar aos olhos dela; Deixou o oficio em rasura, onde apenas dizia: “Preciso de sonhar sozinho”, foi a partir daí que seguiu o vento sem direção. Ela quando menos via, mais cega ficou. Entrou na sala, não o viu, olhou a xícara de chá cheia como havia deixado, observou o papel dobrado em carta, a porta da sala aberta. Se quiseres, digo o que penso; mas ela fez diferente. Amassou o sem abrir. Saiu em desesperos, e em lágrimas. O vento indicou o caminho. Estará curada amanhã; mas ainda estava no hoje, e sabia que ele havia partido.
Por que não conseguimos conhecer razão de primeira vista. Ela abria e fechava os olhos cheios de água, quando finalmente consegui olhar mais adiante e para sua frente. Lá ia ele, seu amor, com sua tradicional boina e esguio, atravessando a rua principal acima, onde dessa rua, dava para ver o trem que seguia ao extremo norte, e de lá se toma um ônibus – a única linha da cidade para chegar à outra cidade, três horas e meia depois estaria lá, na cidade que cresceu. Ele provavelmente chegaria com a própria roupa do corpo, abraçaria seu avô que com tanto cuidado cultivou a terra daquela fazenda, e a primeira coisa que perguntaria ao avô seria, “Onde estão os cavalos?”. Correria para o pasto, e teu sorriso se abriria como um amor a primeira vista, ao montar e cavalgar com o cavalo. Viveria o teu sonho a partir dali. Ela criou coragem, logo, logo a vida se normalizaria. Penso que estamos cegos. Mas mesmo ainda cega, respirou do ar, o acompanhou com o olhar até o fim da rua. E no fim da rua que deu, acabou. O vento indicava, dava movimento, mas só depois de estar no caminho errado, percebe-se qual é na verdade o caminho certo. Estará curada quando acordar de manhã.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A.M.E.




Faça tudo com amor, até mesmo o que não se acha que é amor. Ame as cores, as flores, os homens, as mulheres, as crianças, as danças, as músicas, os livros, os saltos, as bebidas, a casa, o guardanapo com o risco anotado, a televisão ligada na madrugada, o copo de café esfriando sobre a mesa, ou mesmo o copo e o café caído no chão; Ache graça, se divirta, sinta, sinta, ame a vida, o nascimento dela e até mesmo a ida dela.. Ame, tudo acima de tudo, a você mesmo. Faça existir aquilo o ser humano tem de melhor e puro dele, o amor. Ame.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Cena

Disfarçara teu sorriso pelos cantos dos lábios; As mãos inquietas, hora sobre a perna, hora atrás da nuca, hora uma atrelada à outra observando o anel que nela havia. Parecia como querer contar algum segredo. Parecia incerto nas mãos, mas parecia muito certo no olhar, olhar que encarava-me diretamente aos olhos.
Como se a vida fora descoberta ali, como se o mundo fizesse sentido a partir daquele momento. Enquanto apenas observava os teus movimentos, a vida girava à minha volta. O coração mais vivo, fazendo todos os seus movimentos, mais acelerado... e mais e mais. Essa coisa de coração é mesmo complexa de dizer. Nunca acreditei que pudera sentir o coração sobre as mãos novamente; As pernas trêmulas; Lentamente as mãos inquietas, e eu somente querendo parecer interessante. Querendo trazer a curiosidade para o teu mundo, para o mundo fundo. Não acreditava mais que esse coração aqui tivera ainda tanta força para pulsar, e pulsar descontrolado, como se saísse às pressas para ver se era verdade tudo que via e tudo o que sentia. Enquanto controlava-me para não deixa tão exposto tudo que estava ali dentro, pois era vergonha deixar vestígios do efeito causado.
Essa coisa do coração, do controle – e descontrole, deixava-me incerta, deixava tudo sorrindo, como se só aquilo bastasse para existir, como se só aquilo ou isso importasse. Como se só o coração existisse. E simplesmente pegava-me sorrindo pelos cantos dos lábios ao olhar-te fortemente aos olhos vivos, que também me olhava, sentia como se o olho do mundo estivesse à mim e somente para mim, observando com sua calmaria. E tudo ficava somente sorrindo, simplesmente sorrindo, de alma livre, inquieta, liberta, como uma cavalaria que cavalga livremente no campo, sem direção, sem rumo, somente cavalgando e somente sendo a cavalaria no campo. Era coisa de alma intocável e ao mesmo tempo tocada pelas pontas de teus dedos, até tocar-me inteiramente com a palma de tua mão larga.
Essa coisa de controle emocional nunca acontece quando realmente precisamos ter o controle, de saber o que é emoção e o que realmente é somente emoção; e a vida fica totalmente burguesa, só querendo sentir; só querendo sentir. Mesmo que não se saiba bem o quê, e até mesmo por que, mas entrega-se calmamente ao nexo.
Essa coisa do querer o desconhecido, de descobrir o intocável ao meu corpo e aos meus sentimentos, fazia-me deixar com frios na barriga intermináveis. Frio que calava a boca e travava as mãos, e fixava apenas os olhos ao que era incerto: a você.
E levo a saudade sem sabe ao certo o porquê se nada e nunca tive. Só sei que era o sentimento que me domava e me guiava para direção de lugar algum. Tento agora, cantar, distrair, querendo parecer viva, assim de bem. Esse pouco que sobrou, alimenta a alma desencantada pelos cantos da cidade impura. Tento no meu sonho somente manter o puro. Tento na pureza manter o sonho.
Essa coisa de emoção e dês-emoção; Boquiaberta fiquei quando tua mão tocou a minha. Você queria parecer me chamar à atenção; e paralítica – semi-paralítica foi o máximo que pude ser e ficar. Foi lá, quando eu segurava o papel em minhas mãos e ia em voz doce e atenta lendo ao enunciado. Minha mão esquerda segurando a folha branca, a mão direita dando apoio a não sei o quê, mas lá estava, apoiando, e tão distraída ao mundo adverso que estava e tão atenta as letras que seguiam o itinerário preciso da leitura, das palavras, da colocação e você, inventa a cena: Tua mão logo toca a minha mão como num susto que se leva quando algo inusitado acontece, nos surpreende, nos faz parar... e você segura minha mão ali, no breve susto dito, você toca tão suave, tão intenso é teu tocar. Pousa suavemente e de propósito deus dedos largos sobre a minha mão fria que segurava a folha. Você que a partir de agora segura a folha que passou a ser tão branca, tão pálida, as linhas, as palavras perdem sentidos, perdem seu rumo; segura forte a folha sobre a minha mão. Tua mão macia, como se ousasse segurar a folha, ou direcionar aquele mundo segura minha mão; O mundo pára naquele instante, e apenas respirar eu pude. Queria minha face frente a tua, queria teus olhos junto aos meus, queria teus lábios, mas apenas respirar eu pude. E olhava bem para ver se era verdade. O olho do mundo. E era verdade, e somente respirava.
Naquela sala, queria é mesmo esquecer dos corpos que nos cercavam para explodir minha ansiedade por você. Olhava o teu gesto, e parecia já querer amar, como coisa não tocada mesmo, como à primeira emoção, e sentia como se já conhecia do amor desde quando o vi ali, naquela porta ao entrar, e ao seu modo de observar as coisas e todas as outras coisas; Olhava o teu gesto e já sentia a paixão desconhecida, a paixão conhecida e já sabia que no final ficaríamos unidos como o toque da sua mão sobre a minha; simplesmente assim. O mundo sempre é simples quando olhamo-los bem assim, simples na maneira de ser mundo. Mal pude conter minha alegria e o inusitado me acontece: você ... que tão forte e intenso me olha, com esses olhos que Deus fez, que por pecado tão grande e tão belo, consegue me deixar tão menina e tão mulher. Você olhava, você falava com seus olhos, como se os olhos pudessem falar. E não é que teus olhos castanhinhos falavam. Entendi teu mundo ali, e continuei respirando – observando – e respirando.
Já podia imaginar meu corpo ao teu, junto ao meu suspiro ofegante querendo apartar toda a urgência do mundo. Sentia o toque de tua mão deslizando, segurando e acariciando minha vértebra, minha cintura, meu quadril, e num piscar dos olhos, já entregue a tua boca num único libido, num único desejo, de simplesmente permanecer ali, como se o mundo fosse somente esse, como se o mundo fosse somente para isso sem memórias ou lembranças passadas, como histórias de contos de era uma vez que por vezes parecem nunca terem fim.
Essa coisa toda complexa que ei de existir, pelos cantos de nosso corpo, e de nossa mente. Nunca foi forte falar dos sentimentos que sempre estavam encasulados, encaixados em caixinhas bem pequenas e pequeninas, carregando-as assim de forma discreta, bela, porém discreta – escondida às pressas e presa num extraordinário de sonhos e sempre sonhos, tive a surpresa do toque de tua mão sobre a minha descobrindo do mundo encantado do desejo, do simples e puro – puríssimo desejo. Por que era só o que sabia querer, era só o que sabia pensar, depois da mão sobre a mão, ela logo deslizava sobre o resto do corpo, e se prenderia entre meus cabelos longos, e longos... Teu suspiro baixinho no canto do meu ouvido. Teu suspiro baixinho no canto de meu ouvido. Tua voz forte e doce, que mundos tão complexos – tão completos, e você logo já era você em e mim e eu em você, cena criada por você; era assim, era só fixar o olhar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ao topo

"Aqueles que buscam melhorar a si mesmos não devem estar presos à teorias ou palavras, mas procurar agir de maneira impecável, utilizando quatro virtudes que devem ser conservadas: coragem, sabedoria, amor e amizade. Existem vários caminhos para isso, assim como existem várias trilhas para se chegar ao topo de uma montanha – mas este topo chama-se amor, e um verdadeiro guerreiro deve entender esta palavra cada vez que estiver diante de uma decisão. Para isso, treine bastante, mas atue baseado em sua intuição, porque o amor sempre nos permite escolher o melhor caminho."

domingo, 22 de agosto de 2010

O estranho

É assim. Estranhamente assim. Como se bichos selvagens se encontrassem na insanidade dos dóceis insetos. Insetos rodantes, viajantes, como marias cheias de flores, todas elas sem cores, somente o preto e o branco do arco-íris sem íris que se desfaz. Estranhamente, patas de grilos jogados no canto do quarto escuro, no fundo, no fundo do mundo, o quadro – o retrato e a lembrança pendurada na parede descascada de cor bela azul. Na vagues dos móveis, memórias de vidas secas, vazias, urgentes e numa rezaria incerta e sem rumo. É quase sempre assim, é assim, consomem-se e somem, sem ter-lhes a própria alma; Mas calma, a poeira é caminho, lhes mostra no quarto sem janela e sem qualquer objeto, como seguem os trançados das teias das aranhas cheias de façanha por tentar entender de onde vem o começo e para o vai o fim. Pois bem, assim, é assim. Estranhamente migalhas de pão ao chão da porta sem fechadura, sem armadura, e na vida, todos sabem, mas na verdade a vida não é dura; Enganam-se quem acha, pois bem, essa vida passa, tão mole e de graça. A alma não se engana, migalhas, baratas, cascalhos, buraco tão fundo, tão ralo, no meio embaixo, no escuro... escuro.. claro, claro... e no claro do mundo. Você tão perto, tão longe. És meu, és inteiramente seu, essa vida agora te apresento com toda a sinceridade de meu mundo, a vida não foi, e principalmente não será. A vida, simplesmente é. Você também é. Você é, e misterioso ao seu modo termino minha poesia: Amar sempre é; Estranho a emoção, mas é assim, eu amo-lhe.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Pensamento instantâneo

- É assim, amar é.

- O fato é: Que máximo! Cada um temporariamente felizes temporariamente tristes.

- Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

-Repito, é assim: amar é; simplesmente é.


domingo, 4 de julho de 2010

Crônico

Não pense sempre que a alma tem tanta força. Só depois de ser quase feliz é que se compreende que ser feliz é impossível. É-se sempre e quase sempre mais ou menos feliz, meio feliz, às vezes feliz, de vez em quando feliz, por hora feliz, por momento feliz, mas nunca sempre se é feliz por inteiro. É que é preciso sempre realizar uma relação a si mesmo, essa coisa do espírito e da alma, com o mundo externo. Não pense sempre também que o próprio espírito tem tanta força assim. Tudo que nos cerca nos transformam o tempo inteiro. Há certos momentos em que você se transforma em algo que não é você propriamente falando, onde nunca sabemos o que é mesmo que sustenta o edifício inteiro. Há certos momentos que não se sabe qual qualidade ou defeito nos adverte. A vida. Ela sim nos transforma o tempo todo, sem parar, sem descanso, sem pausa, com toda a força de um cavalo cavalgando acelerado e acoplado as suas ferraduras quentes e sempre prontas para galopar. Sim, a vida nos transforma muito, mas há uma outra vida que nos transformam naquilo que nunca pensamos que queremos, que desejamos e quando menos imagina, logo é-se, onde perde-se toda a vivacidade pela verdadeira vida, e substitui-se pelos os interesses pelas coisas e todas as outras coisas. Ouça: enquanto continuarmos a ter que nos adaptar a coisas que são inadaptáveis, enquanto continuarmos com as desigualdades, enquanto continuarmos com meios termos para tudo que nos cercam, enquanto continuarmos entre luxúrias e misérias, enquanto continuarmos com pobreza absoluta, com a fome, com a sede, com a corrupção, com cegueira para a política, enquanto continuarmos a orar junto à mídia, enquanto não lermos mais livros do que assistir televisão, viveremos assim, tentando sempre vencer nossas repulsas e nossos sonhos. Tendo que cortar o que é seu propriamente dito, por que exigem, por que há regras. Por que é assim que manda o “ser feliz”. Oras, Como é que se é feliz? Nunca chega essa tal felicidade... se estamos sempre indo.. indo e vindo, entre uns com direção, entre outros muitos sem saber por onde vão e entre outros que simplesmente estão ali, procurando a felicidade. Têm-se do amor, mas querem vários por que um só não basta. Têm-se do dinheiro, mas querem e precisam de mais, por que sempre é pouco, sempre não dá. O que é mesmo ser feliz? Juro por Deus que ser feliz é muito mais do que essa vida cá vem nos dado. É só isso: a casa, o carro, o trabalho. Mas é imoral falar-lhes do que a vida em si exige. Desculpe-me, mas há algo extremamente estranho e confuso e não pense que enganam a minha alma. Ser feliz não é por assim ficar copiando pessoas ideais, ou vidas ideais. Ser feliz é como amar. Simplesmente é. Amar é. Ser feliz é. Eu sei que esse meu modo de viver e de pensar e de ser deverias de ser é punido e jogado para um inferno qualquer, mas isso em suas regras, em suas vidas, por que aqui, mesmo que carregado do que se imagina que é ruim, não se enganam a minha alma. Essa sim tem cautela. Queria mesmo falar mais a vontade dela, mas quero dizer sobre o ser feliz... Que pequeno e morno nossos corações para o que nada nos pertence, e o pior ainda é ver que todas as almas acomodam-se acreditando estar em paz. Não pense que a alma tem tanta força assim. Não pense que é assim que se é feliz. Depois de ser feliz, é-se o quê, hein?

domingo, 27 de junho de 2010

Como as rochas

Ainda é estranho olhar para a minha direita e não vê-lo ao meu lado. Ainda é estranho embarcar naquelas viagens diárias e não olhar-te aos olhos, simplesmente olhar-te, como se ainda fosse novidade para os meus olhos nus. Era assim que fazia todos os dias... Olhava-o como se fosse novo, como se fosse a primeira vez olhando-o, sentindo-o, descobrindo teus olhos aos meus pouco a pouco, lentamente, entrando e tocando toda a minha alma. Ainda é estranho não ter-te por perto. Ainda é estranho não ser feliz.
Por que depois de tocar-te, não sei ainda não querer outra coisa. Talvez por que nunca houvera outra coisa antes de ti. Talvez por que nunca houvera nem a ti e nem a mim. Por que depois de expor todo meu desejo por ti naquela noite fria e de tocar aos teus lábios com minha boca suave e com as pontas de meus dedos, eu tenha morrido. É, morri. Morri ali, e nasci em seguida quando apertara com força tua mão na minha, e apoiara a mão direita em minha nuca, atrelando seus dedos aos meus cabelos. Morria e nascia a cada segundo ali. Segurava minha coxa com força e carinho, e eu nascia cheia do arrepio por todo corpo e alma. E nascia com o teu gosto em minha boca, e nascia ao abrir meus olhos e ver-te sorrindo. Belamente sorrindo. Criadora de uma vida mágica fazia daquele momento o como se fosse o último da vida, e principalmente como se fosse o primeiro. O coração acelerado, minhas mãos se perdiam em ti, e eu morria, morria e nascia cada vez mais cheia da vida, cheia do tudo e cheia do nada. Não sei mesmo querer outra coisa, a não ser nascer novamente em teus lábios, com tuas mãos em meu corpo. E nascer em ti, aos teus olhos, a tua palavra, a tua vida. Descobri como é caminhar descobrindo do mundo, sem medo de continuar andando, sem medo de cair, sem olhar para os lados, segurando tua mão. Descobri como é bom amar sem saber que se ama, e como é bom saber que se é amado quando se imagina que já o ama. Como é bom encantar. Como é bom surpreender, esquecer do desigual desse mundo, das armadilhas da mídia, da propaganda, do dinheiro, do governo; esquecer dos comentários medíocres e impensantes de bares, de conversas de banheiros, de futebol, de sorrisos e olhares forçados; como é bom nascer. Aprender com a simplicidade de um olhar que a vida... É a vida. Oras, “é a vida”. E morre ela toda surpreendida, encabulada e boquiaberta da própria vida. É assim, “é a vida”, ou você acredita mesmo que o príncipe por que é belo, o fará sempre feliz. Morri naquele domingo brilhante de parque ensolarado; Morri naquele café no qual eu chorava e você sorria, sádico, belo e simplesmente sorria. Morri quando o vi a última vez e não tive coragem de olhar-te mais aos olhos, e de aproximar meu corpo próximo ao teu. Morri quando minhas supostas culpas batiam a porta da saudade, e passava a tarde tentando ouvir tua voz ao telefone; Morri quando quisera morrer para mim. Foi assim: você ia, e eu não queria; você queria e eu não ia. “É a vida”, e ainda torna-se estranho resenhar trechos de meus possíveis sentimentos por ti, tão admirável e tão frustrado como esses sentimentos postos. Como aquela música que rolava de fundo enquanto você ouvia comigo, e eu ao seu lado, próximo aos seus ombros, fingia que dormia, só para ficar sentindo teu cheiro ao meu modo, como essa música ainda flutua à minha alma.
Ainda é estranho acreditar que sinto o teu cheiro tão teu, que ainda olhas-me aos cantos desse mundo que gira, e gira, e parece não sair, não ir para canto algum. Ainda é estranho ter a caixa que preparei para ti, onde tentei por todas as formas entregar-te, mostrar-te que fosse ao menos, mas você... Já se havia ido, havia-se o querer morrer. Eu morri, quando tuas palavras vieram fortes em tua carta, com palavras que nunca imaginava que pudesse ler vindas de tu. Eu morri. Tantas de mim que morreram e nasceram, e nasceram e morreram como quaisquer outras bonecas russas, sempre uma dentro da outra desde quando o conheci e desde quando o vi. E desde quando e quando é estranho acreditar que o mundo ainda é mundo nessas tantas mortes causadas. E sei bem que não só a mim morre. Todos morrem. É estranho acreditar que não há verdadeira vida, pois bem, te segura bem forte o coração, pois digo numa reza sem calmarias: Não há verdadeira vida. Enquanto acreditarmos que só o que se tem é bom e útil, não há vida. Enquanto acreditarmos que só o que se ver, o que se toque, o que se sente, existe, não saberemos o que é amar. Não haverá vida; não haverá amor. Amar é. Somente isso. Por quantas mortes ou nascenças que se tenha, amar simplesmente é. Diferente da vida, que não é, ela naturalmente vai-se, a qualquer canto estranho do mundo ou das almas, ou... Mas a vida vai-se... O amor fica; ele não é fase, ele na passa, nem mesmo como uva e nem mesmo de graça. Mas falo de amor verdadeiro, amor que não se percebe que se ama, e que quando menos imagina, está lá, todo sendo o amor: amando... sem receios ou preciosismos.
Foi assim também com as músicas e meus cantos. Saia saltitando, esguia ao meu modo de ser, com o fone entrelaçado ao meu ouvido, soando as canções, as músicas, as melodias, letras, e ia-se cantarolando a qualquer modo, simplesmente amando e amando, e cantando, e como numa bela armadilha da música, da vida e ate mesmo do amor, por que é assim o amor age, com surpresa e inocência e quando tentei-me ficar sem os cantos e as música por um dia, não sabia como agir, não sabia como ser; simplesmente ser eu já não sabia. Foi assim também com você, que quando eu menos esperava, estavas já de alma entregues a ti, de coração e alma, de alma e de coração, por que acreditava que realmente valia a pena. Mas valia a pena, valia qualquer pena que fosse por que o que sentia por ti, era o que sentia por mim. Amor quase sempre é assim: agente sempre ama o que já amamos a nós mesmos. Mas eu, com tantas de mim, morri, sem direito a nascer novamente. Somente morri, ali, ajoelhada ao chão, com o pranto seguindo sem direção qualquer, sem rumo, sem força ou fraqueza que seja, somente morri, sem poder nascer novamente.
Ainda é estranho acreditar que há amor por ti em mim, e de mim por ti. Não é esperança, não é ilusão; não é música, nem poesia, nem nada para somente aliviar o coração: depois de tantas mortes e nascimentos, é que se descobre que as ausências diminui os amores medíocres, e mantém somente os grandes. Somente os grandes; soa estranho ainda, mas amar é. Eu amo-lhes.

sábado, 22 de maio de 2010

Ludibrioso convite

Pareço ter voltado à adolescência, bem como quando tinha a cerca da mente os sonhos mais deslumbrantes e encantados que qualquer menina de seus quinze anos possa-se ter. E foi assim que fiquei e que me deixara diante o sonho mais que surreal de príncipes encantados. Os príncipes encantados existem. Todavia que deva eu é fazer pergunta ao invés de, de fato afirmar. Os príncipes encantados existem? Se bem que enquanto há amor, há encanto, e o príncipe logo existe; Se bem que enquanto há encanto, há príncipe e há amor.
Há amor por vez e ainda nesse círculo de mundo que apela pela mídia já dita apelativa; pela luxúria extrema nos meios entre desigualdade e pobreza absoluta. E se agora me sinto e estou como adolescente, como menina demais, não sendo uma flor, sendo apenas um broto, um botão, com seus espinhos vivos e pontiagudos, não devo estar diante a realidade que é esse mundo. Não, não estou. Estou dispersa entre “sonhos de uma mulher” e entre “sonhos de uma menina”. Dispersa entre a rotina diária do trabalho e antemão do dinheiro, é claro. O dinheiro sempre mexe com o coração e cabeça de qualquer um.
Pois bem, voltei à adolescência. O dinheiro ainda não mexeu com meus neurônios. Sou agora menina confusa de seus quinze anos, que depois de tanto tempo adormecida, tornou-se bela; e antes do fim, tornou-se adormecida novamente. Sempre ao modo ao contrário.
Fora quando o príncipe alto, cabelos louros e raspados, óculos de grau de armação grossa da Gucci vinda da Europa, bem com seus trajes sociais e casuais que acordara a adormecida e mexera de vez com os neurônios, cabeça, coração e toda e qualquer parte do corpo. O coração veio à mão, e descontrolada a mão ficara, tremia, balançava, pulsava como só o coração pulsa com sua forma única. Na boca soavam poucas palavras, por que ao mesmo tempo em que estava ansiosa por ele naquele momento estava também com uma felicidade incontrolável, estava boquiaberta, com um sorriso lançado de forma discreta pelos cantos dos lábios, estava muda e com o coração pulsando, acelerado. Parecia que eu não acreditava no que via. E eu não acreditava, eu só via. Mas isso foi depois de descer do ônibus. Mexer nessas lembranças parece mais como dé jàvus, onde temos fortemente a sensação de que aquilo tudo que aconteceu já acontecera antes, e acontecem como se já soubesse que havia de acontecer, quando na realidade nunca ocorreu. De fato que inédito para os meus olhos e para o meu coração pequeno e pulsante fora. É, estas vendo, é bem assim que acontece com o coração de qualquer menina com seus doces e sangüentos sonhos: Deixa tudo belo, mas também deixa a tudo complexo.
Complexo foi tentar entender os seus passos dado. Não acreditava realmente no que via. Apertei a chamada campainha do ônibus, que era o “sinal” ao motorista de que iria descer. Aliás, já faziam cerca de nove meses fazendo exatamente o mesmo trajeto e caminho. De surpresa ficara meu pequeno coração pulsante; É que sabia bem que ele sempre descera a dois pontos depois do meu. Enquanto aguardo o ônibus parar para enfim descer, dou-lhe um “tchau”, e “até amanhã”, e ele levanta-te do assento; Naturalmente me olha e me sorri. O coração pulsa de alegria. Alegria incerta, mas pura alegria. Tentava eu imaginar aonde é que irias o tal príncipe que em seus bons modos e hábitos, desceria a dois pontos antes do devido. Como já havia por beleza criada dele, trocado palavras o suficiente para interrogar-te, assim disse: - Para onde você vai? É que ...
Parecia não acreditar no que via. No que iria ouvir, e não acreditava. Não dera tempo nem de completar a frase: - É que... E o príncipe sutilmente com seus belos lábios europeu e voz forte, responde: - Preciso passar ali no supermercado.
Sem nexo algum, laçava teu olhar de forma diferente ao meu. E assim simplesmente respondi; sem resposta alguma com olhos mudos, ansiosos.
Acontece que há tempos vinha eu de forma mais menina e juvenil desejando a bela companhia para todo o sempre. Acontece também que pouco sabia quem era bem o príncipe para dispor-me para todo o sempre. E como na verdade queria-o para mim, como Deus o fez, com teus belos olhos e inusitados que me falavam coisas sem ao menos mover os lábios. Já fazia tempo que pedia a Ele para direcionar meu caminho; E assim Ele o fez.
Eu realmente não acreditava no que via. O ônibus pára; a porta abre-se; desço na frente com todo cavalheirismo dado. Espero o sem saber tal projeção. Ele logo segue meus passos. Ao andar, ele pergunta onde fica o prédio que vou. Ansiosa, respondo-o; - É logo ali há dois quarteirões. Ansiosa, deixei o silêncio suprir minhas palavras e ele logo completa: - Vou ir com você? Pode ser?
O coração pulsa. Aceleradamente, fico a esmo, boquiaberta, boba, sorridente.
Sem dúvida alguma me importaria com sua presença ao meu lado, e por Deus, como eu esperava por aquele momento há tempos. Não quis demonstrar minha alegria e entusiasmo para não ser mal interpretada, tímida e discreta perguntei apenas se não ficaria muito longe para ir para sua casa, se não iria atrapalhar, aliás, havia dito que passaria no supermercado... – Não, não vai atrapalhar. Eu gosto de caminhar, ele diz.
Caminhando lado a lado, atravessávamos os dois quarteirões. Já tentei por diversas noites mal dormidas lembrar-me do que é que conversávamos até chegar ao prédio. E eu não me lembro. Era tanta alegria que só sei que sorria. O coração trêmulo – pulsante. Ele, príncipe, com sua bolsa transversal, usando malha azul, olhando para onde quer que eu olhe até a chegada ao prédio. – Pronto, chegamos! É aqui que eu estudo, eu disse. Estávamos na entrada principal do prédio, na Rua C. Popular, e o príncipe soa um comentário que deixara a mim surpresa. – Nossa é diferente, eu nunca vi. Daí, eu tão sem palavras respondi com sorriso. Percebi que ele estava encabulado com alguma coisa, mas que queria me dizer algo. Bem eu já disse que eu estava trêmula, pulsante, acelerada, como agora ei de estar. Exatamente como estou agora, enquanto vou traçando essas linhas, essas lembranças no caderno de anotações a mão treme a cada letra feita, o coração acelera fortemente, os olhos enchem-se d’água. Saem tortas as letras por dizer como é que eu estava naquele exato momento enquanto estava com ele. É que encarnei o momento, é que também estou como uma adolescente agora. Exatamente agora.
Meus olhos brilhavam diante aos dele, e ele olhando-me com simplicidade e posse diz logo de vez; - O que você vai fazer hoje? Enquanto ouvia tuas palavras, logo flor me transformava. Fora ali que acordara ao botão de flor que adormecia em seus próprios espinhos. E parecia não acreditar no que via. Não demorei muito para responder, foi só o tempo de procurar respiração e dizer-lhes: - Vou sair um pouco tarde da aula, e ir para casa, mas por quê? E ele logo completa; - É que eu quero sair com você, pode ser? Eu não acreditava no que ouvia. Queria é ter gritado para o mundo ouvir eu dizendo claramente que sim. Era sexta feira, atrelada na rotina tinha o cansaço da semana que terminava. Não queria perdê-lo de vista. Queria-o. Eternamente queria-o. Mas já era sexta feira e se eu saísse naquela noite, não ia é agüentar. Como alternativa certeira, disse que aceitaria sair sim, só que intensifiquei se podia ser amanhã, sábado. – Pode ser, perguntei-lhes. Ele responde de forma simples, e admirável, - Pode ser.
Acredito que qualquer palavra que eu pudesse ouvir mais adiante, não interferiria na minha principal vontade de conhecê-lo mais e mais; Aliás, queria-o para todo o sempre. Possa ser que eu esteja errada, mas sentia uma paixão absurda para os dois lados, suas palavras saiam quase sem sentido, gaguejando-as, já as minhas saiam tortas, trêmulas. Não vou deixar de citar é claro, que via o brilho nos olhos dele, o príncipe, por que eu juntava todo o contexto e só me fazia um único sentido: Não existia o supermercado, não existia a caminhada, não existia o incomodo de descer dois pontos antes do seu devido ponto; Anexava suas palavras ditas, seus olhares, a mão dele que também tremia suavemente: Era o que ele realmente queria, convidar-me a sair. Via o quanto se esforçava aos modos “brasileiros” que nada lhe pertencia, mas logo vieram os problemas: - Aonde iremos? Eu acho que não sei mais sair, é que faz tempo, indaguei-me. Realmente fazia tempo. E o príncipe logo deixa o mundo em minhas mãos trêmulas: - Ah, eu não sei, você quem é a brasileira aqui. Com o sorriso meio aberto, disse que podíamos fazer assim: falamos-nos mais tarde, e combinamos, pode ser? Pode ser sim, claro, mas como vou falar com você, ele completa.
Era mesmo uma adolescente que como se nunca tivesse recebido um convite para sair que ali estava. Tudo que eu mais queria era estar junto dele, e eu não sabia nunca como agir. É que não acreditava no que via.
Percebi naquele momento que os dois estavam ansiosos para “aquele momento”. Os dois sorriam sempre um para o outro, com tanta graça, como adolescentes apaixonados, bobos e encantados, sorrindo simplesmente um para o outro. Quase que não se via os olhos do príncipe; o esforço lançado no seu rosto ajudava a deixá-los com olhos pequenos, verdes, puxados e pequenos.
Como admirava a cada movimento. Como o príncipe admirava-me a cada movimento. Ah, se pudesse parar o mundo por ali, ficar a admirá-lo a cada traço de teu rosto, colocá-lo em meus suaves braços, e sentir fortemente o gosto de tua boca. Intimidei-me; acreditava que não era o momento. Anotamos assim, o número de telefone um do outro em nossos aparelhos de celular. Oras, como é que pude me esquecer, lembrei-me que enquanto atravessávamos os dois quarteirões ele me ensinara como se pronunciava o teu nome, que aprendi a pronunciar somente um tempo depois, apesar de ter em meu sotaque o “r” arrastado, teu nome não era simples para mim. Era como uma criança aprendendo a soletrar as letras, formando as sílabas, até tentar soar correto seu nome de origem européia. E ali, quando me passava o teu número de telefone, ele soletrava atencioso o teu nome." Em honra ao teu nome, eu dou-lhe meu amor", eu pensava e concluía. Ao terminar de anotar e “salvar” no aparelho, ele confere, anota o meu e deixamos um ao outro a promessa de nos encontrarmos no dia seguinte para sair por aí, conhecer um pouco dessa grande São Paulo ou simplesmente ficar num canto só, conhecendo somente um ao outro.
Como o coração tinha pressa naquela noite de sexta feira. Parecia mesmo que o coração queria fugir de mim, e assim ir-se com o príncipe em seu colo, em suas mãos, em sua bolsa transversal ou até mesmo em seu coração. Pareço mesmo ter voltado à adolescência, cercada dos sonhos, sentimentos e emoções dos mais deslumbrantes que qualquer menina possa-se ter. E voltei realmente à adolescência. Tinha certo orgulho que encenava ao perceber ali, que nunca havia de ter recebido um convite, assim, de forma tão simples e sincera como pôde ser. Já meava meus vinte e três anos e tudo que sempre recebera anteriormente, eram cantadas baratas, fracas, e o quê sempre ouvira dos rapazes e homens eram nada; simplesmente nada, por que sempre vinham com assuntos medíocres e masculinos, assexuados que só os anti românticos sabem dizer.
Lembrar-me de momentos tão simples, bobos, mas tão belos como estes, faz-me crer ainda que amores, príncipes, contos, paixões não estão somente nos livros.
Foi a primeira vez em que encostei meu rosto ao dele; Despedi-me com um beijo em teu rosto – pele branca, cheirosa, perfume importado, bom de cheirar, queria é ter ficado ali, com meu rosto próximo ao dele, e sentir um pouco mais do teu cheiro em seu pescoço. Caminhei olhando-o aos olhos. Acenei para ele, e ele me responde levantando a mão direita, com o sorriso feliz e encantado. Subo os três degraus que havia e me deparo com a multidão à frente. É sempre engraçado andar em direção contrária de pessoas com rumo quando se perde o rumo. Só sei que segurava bem firme a bolsa vermelha, pois era lá que estava o aparelho de celular – era lá que guardava ele, meu caminho a ele, para ninguém pegar, para ninguém ver, nem sentir o cheiro que era bom, e muito menos olhá-lo. Depois de traçada a vida com o príncipe, recuperei algo que havia perdido e não tinha na adolescência: A inocência. Amar exige inocência, exige sonhar e principalmente interesse de ambas as partes. Pareço mesmo ter voltado à adolescência. É bem assim que acontece com o coração de qualquer menina com seus doces e sangüentos sonhos: Deixa tudo doce, ludibrioso, sutil e doce.

domingo, 25 de abril de 2010

A Sábia

Venho de muito longe. Lá de mil novecentos e oitenta e pouco. Agora com pele branca, pálida até, os cabelos acinzentados presos com grampo caminho lentamente a descer as escadas. Todo dia é assim: às sete horas da manhã subo e às onze e meia da noite eu desço. Já não uso o velho salto que me deram lembranças de eternos calos, nos pés me acompanham umas sandálias vindas do nordeste. Bem de lá, da terra seca, onde até choro é motivo de alegria por se tratar de água. Pois bem, as sandálias são dessas mesmas de dedo, na cor barro, que horrivelmente não combina com nada. Mas já sou de muita idade, pouco me importa a combinação a seguir. As pernas já não são mais as mesmas de vinte anos atrás. Agora, cerca-me toda de veias finas avermelhadas e azuis, bem que fiz uma cirurgia quando estava com meus quase vinte anos. Mas não teve jeito a escadeira retroagiu a tudo. E sei bem que não fora só a escadaria que deixaste a em depressão. Foi o peso também.Já pensaste na quantidade de coisas que já carregamos em nossa vida? Junte tudo isso concentrado numa só pessoa. Num só corpo. Não, ainda não sou obesa. Sou uma senhora ainda muito regrada pelas éticas de jejuar a cada dia. Mas o peso que digo é esse mesmo. O coração pesa. A cabeça pesa. O cansaço pesa. Até a Dona Esperança pesa. Pesa sim senhor, a esperança pode parecer a muitos alguns, muito sutil e sentinela como sonhos. A esperança é sempre a nossa vontade centralizada nos nossos próprios desejos. Mas de orgulho, faço questão de dizer. Sou uma senhora nada, nada egoísta. A esperança que carregava, ou que ainda por certo carrego é de não exista mais degraus. Isso mesmo. D-E-G-R-A-U-S. Mas não dá. Suplico: essas escadas estão me matando. Eu tenho pressa, tenho fome, tenho sede, tenho medo do escuro que segue aqui, e tudo que posso fazer, á caminhar calmamente. Lentamente, até por que, os degraus estão cheios de pedras. É. Essas mesmas. Estão reformando a casa duzentos e cinqüenta e nove, e todo dia é isso: esse vai e vem de material de construção.
Meus pés fielmente tomaram nojo de escadas. Cansa, tira o fôlego, doem as pernas, os joelhos, e sem contar que o moço da cadeira de rodas que sofre um bocado, não sai de casa há semanas, talvez meses, mora logo ali, abaixo da escadaria que tem exatos sessenta e nove degraus. Isso, 69. Contei todinhos. Ainda sei contar. Tenho memória boa para números, queria é mesmo ter tido educação e ter estudado como minha mãe sempre me disse que devia fazer, mas não, fui além. Era bem assim, estávamos saindo do período de ditadura aqui no Brasil. A liberdade se programava a tudo. Foi lá, bem no finzinho dos anos oitenta que as coisas se modernizaram. Comecei a trabalhar cedo, muito cedo. Queria mesmo ter estudado matemática. Mas tenho dons para costura, de certo que me especializei em culinária e pediatria. Daqui a pouco vou fazer o prato mais típico aqui do Brasil: arroz e feijão. Todo dia alias é assim, arroz e feijão, arroz e feijão. Quando sobra um trocado, tem macarronada, mas é luxo demais para as crianças que pari. Isso mesmo foram todos partos normais, dos cinco, e de cocas. Mas não é nada fácil entender de economia, de contas, de pediatria, de advocacia, de gastronomia, de astronomia, dá um trabalho danado se formar nessa profissão aqui. Não sei se podemos dar o luxo de dizer que é profissão “dar”. Não. Não sou garota de programa, nem nunca me dei a qualquer um por valor qualquer que seja. Sou muito é correta, e não me dou o pudor de olhar para outro homem. Mesmo sabendo que Antonie, está muito longe daqui. Sei que logo, logo o encontro, mas aprendi desde mais novinha, que nada é por acaso, e que tudo, tudinho nessa vida, tem seu tempo.

domingo, 7 de março de 2010

Você

E já se passaram mais de trinta dias. Mais de sessenta, mais de noventa dias. Um semestre. E por certo estou é perdendo as contas do tempo. Só sei que ainda tenho por ti o mesmo sentimento de um ano atrás. É; eu ainda me encanto e suspiro cheia de sentimentos lembrando de ti; São tolices... “São tolices” dizia uma música no ano em que nasci. E quando penso em verdadeiras tolices, perco o sentido. O tempo sempre é preciso para mostrar que nada realmente é por acaso. Já se passou um semestre: um semestre sem notícias tua, sem saber exacto onde estares, sem vê-lo. Sem olhar-te aos olhos depois de uma suposta despedida que já era a despedida e eu só descobri duas semanas depois que nunca mais o veria. Um semestre que tenho vivido da maneira mais natural e “profunda”, onde realmente tenho visto tudo e tenho sentido tudo, mas aqui em minha memória e em meu coração carrego você, a tua imagem, as tuas palavras, o teu gesto, o teu carinho, o teu amor. E sem romarias e com todo preciosismo grito: que saudade de você.
Distraio-me com minha rotina; o trabalho é meu aconchego, os estudos minha salvação, os amigos a cura, o mal humor a doença, e no sorriso fica a ausência.
E é bem assim, vejo e logo sinto. Penso e logo escrevo.

Vou escrevendo e já estando. Já vejo tudo, e digo, e escrevo: O dia em que encontrar-me novamente contigo... Ah, oras, o coração deve é parar de vez. Já sinto as pernas bambas como se estivesse ao teu lado. As mãos perdem a força e o controle, e na boca poucas palavras, por que sairão tortas. Estou paralítica. Olhando-o como se fosse a primeira vez. Talvez dessa vez eu olhe-o de cima para baixo. Talvez ainda de tanto olhar já derrame uma lágrima como faço agora ouvindo o mesmo álbum que ouvia quando te conheci Seamese Dream dos Smashing Pumpkins. Talvez somente consiga fazer isso, derramar de vez as lágrimas que segurei quando disseste que ia partir. E me lembro bem, nós dois, postos numa mesa do café, eu olhava-o atenta, você brincando com a xícara de chá que tomava, e eu sem fome ou sede alguma somente olhando-o e ouvindo-o, você fazia caretas e falava com o “bico” mais preciso que todo francês tem, eu já ia entendendo todo o final, e foi ali que segurei as lágrimas que derramo até hoje. Não sei se realmente se minhas palavras sairiam novamente para ti, acho que faria com nos filmes do Charlie Chaplin, falaria com os olhos. Faria cena muda. E sem dizer uma só palavra você me entenderia. E me entenderia se eu ficasse ali, parada, olhando.
Seria inevitável encontrar-me aos teus olhos novamente e não sentir o coração mais forte. O pulsar incontrolável. Seria inevitável não derramar a lágrima. E não falo isso por ser extremo ou estar romântico, não. Nem falo isso por achar que dessa forma eu iria comovê-lo, isso nem iria mover o movimento de teu nariz. Falo isso por que não teria nada a lhe dizer; o que queria dizer eu já lhe disse, mesmo que não tenha me dado ouvidos. Somente olharia a ti como a primeira vez em que o vi: a luta discreta de poder e desejo, olhar de como já quem o pertence, como se já pudesse entregar a alma. E soaria no tom mais manso de minha voz... “feche os seus olhos”, ou ...'Fermez les yeux'... tocaria teus lábios com as pontas de meus dedos direitos, acariciaria teu rosto e chegaria até tua nuca, num suspiro, os olhos já bem cheios d’água soltariam suas lágrimas. Daí continuaria dizendo-o mansinho: “feche os seus olhos... e veja...” ..' et voir'... Sei que doeria muito mais em mim do quê em ti, mas o deixaria ali, paralítico, parado, sozinho, assim como deixou-me: Semi-paralítica.
Já se passaram seis meses. E tenho ainda saudades de ti.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

"O amor consciente desperta o amor. O amor emocional desperta o inesperado. O amor mecânico desperta o ódio".Gurdjeff

Por que carrego comigo sonhos e esperanças de um passado fragmentado. Após ler Leite Derramado de Chico Buarque, derramo agora meu leito, meu pleito, minhas razões.
Amor mecânico desperta ódio.
Já disse-lhes que sinto como se fosse a poucas horas que direcionastes o teu olhar ao meu a primeira vez. E enquanto não apago-te plenamente Ade minha mente, sinto-o cada vez mais presente, mais profundo a tua boca na minha, os teus olhos “de gato” combinando numa bela sintonia ao teu sorriso.
Eu sei que já disse sobre vossa morada tantas vezes e devo mesmo ter todas as tuas falas e palavras direcionadas a mim de cór. Mas não sei se disse que o vejo em tudo que faço, por onde quer que eu ande, por onde passo, com quem falo, com os livros que leio, com os filmes velhos e repetitivos, e se já disse perdoe-me o repeteco. Posso estar parecendo como os mais velhos que vivem repetindo as mesmas histórias, por que elas foram as mais grandiosas. Não me importa mesmo com o quê ou quem estou parecendo e acho uma graça divina ter toda essa vida tão bem detalhada como em minha mente. Mas é que hoje estou nostálgica. Estou carente; boba; careta, e com os olhos cheios d’água por todos os cantos da casa. Acelero o coração na lembrança forte de teu abraço e perplexamente assumo sem romarias: é amor nostálgico, é amor platônico.

Nunca entendi muito bem do amor. Tenho apenas uma eterna visão de quando criança: “Os adultos complicam tudo!”. E complicam, enrolam, desenrolam; é amor e desamor. Só sei que o amor exige a inocência e a paciência, do demais não sei o que se exige. O que se exige é sempre algo muito particular, muito singular. E amor nunca foi singular. Amor é plural.
Mas se isso é outra história, não deixarei-a para depois.
Foi quando vi teu retrato nos braços de outra, boquiaberta fiquei. O coração parou. Quase parou. E se parasse ali mesmo, era ainda melhor do quê continuar carregando o teu coração em mim. Os olhos encheram d’água, olhava a tudo embaçado e quase não tinha certeza. Eu não queria mesmo acreditar.
Perplexa, meu mundo parou: trezentos e sessenta graus, trezentos e sessenta graus. Trezentos dias, trezentas noites, trezentas lágrimas, e trezentos e sessenta graus novamente fiz . Você mentira; e não fora uma vez se quer. E estar em teus braços francês, era lúdico. Utópico como dizem liristas.
Amor emocioal, desperta o inesperado...
Lembrar-te de ti à suspirar no meu ouvido, falar manso e enrolado as palavras difíceis em português chega a deixar-me com o coração acelerado... e arrepia todos o pêlos do corpo, mexe minha coluna vertebral e deixa-me com frio na barriga, por detalhadamente sentir o carinho de tuas mãos nas minhas, por que meu coração permanece rígido e alvoroço por você; o francês.
Amor consciente, desperta amor.
Amor desperta amor... é amor o que sinto por você.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Trecho II

Eu casaria com você. Talvez numa praia ou num jardim cheio de flores, ou até mesmo no mais tradicional da igreja. Talvez agora soe um pouco lúdico falar-te de casar-se. Mas casaria sim. Mesmo que fosse por pouco tempo, por uma semana, por um dia, por uma hora, ou por toda a vida. Não falo isso por causa do desejo. Conheço bem do desejo, e depois de encontrar-te a cada dia, percebi que não era simplesmente desejo. Não falo isso somente por que é sonho de toda menina, casar-se com todo o tradicionalismo possível; Falo isso por que nunca fora sonho meu casar-se. Era aquela coisa da independência feminina e da modernidade toda que cercava. Mas com você casaria, e usaria um vestido de renda no tom creme, feito por minha amiga e futura estilista A.Tristão; ela que entende bem da costura, das linhas, dos tecidos, e das histórias de todos eles e de entende de meu estilo, saberia colocar-me no sonho das rendas. Usaria luvas rendadas, por que moça com luvas fica extremamente delicada e elegante; talvez não fizesse nada de diferente em meus longos cabelos. Deixaria o mais natural possível pra ti; Da mesma forma que me viste a primeira vez.
Não falo isso por causa do excesso sono, e nem por causa da saudade que hoje ainda carrego. E não falo isso também por parecer extremo romântico. Não, isso é realidade pura. Acredito que o mundo não precisa mais de mentiras.
Não falo isso por estar sentimental, nem pelo excesso de cafeína ou do vinho nos últimos dias. Pode até parecer insano dizer-lhes, mas não é. E de repente torna-se ao lembrar-me de teu olhar ao meu, e ali, você admirando, dando um pouco do teu mundo no teu olhar... Como se ali mesmo fosse o dia do casamento, e logo em breve estarei carregando o teu nome em honra e memória de meu amor; e logo, ali, entrando no altar seguindo a direção de teus olhos exatamente como agora, como em minha eterna lembrança. Parece insano por que insanidade é como a coisa do não pensável, do não racional, mas informo-lhes que racional é o que demais sou.
Eu casaria com você.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Trecho

Lembro-me com fervor de teu primeiro olhar ao meu. Parecia como uma luta discreta de poder e desejo. E se isso for desejo, posso bem dizer que agora sei bem o que é desejo. Mas antes de encontrar meus olhos aos teus, passavam-se pessoas ao meu lado esquerdo; Enquanto ia lendo algum livro de Lispector e ouvindo alguma música para distrair, as pessoas se acomodavam em seus lugares naquele ônibus de uma viagem nada “comum” e você chegara. A primeira coisa que avistei à minha esquerda fora tua bolsa bege e transversal. Acompanhei-o até onde pude com meus olhos, e você para bem frente a mim. Boquiaberta observava-o: usava sapatos de couro preto, jeans casual, e uma camisa branca com claras linhas azuis. Foi bem assim que te olhei: De baixo para cima. Até chegar ao teu rosto. E quando cheguei a teu rosto, fixei meu olhar ali, nos teus olhos claros, quase azuis, mas depois descobri que eram verdes. E ali, no encontro de teu olhar, fiquei parada, paralítica, semi-paralítica. Olhava como se já me pertencesse, como se eu já o conhecia. Observei calmamente teus lábios, teu nariz, tua face e todo o conjunto. E logo num encanto, você me olhava, parecia que ali mesmo você me sentia que tomava minha alma. Acho que me entreguei logo ali, quando minha atenção estava a ti, eu que nem escutava mais a música que soava aos meus ouvidos. Eu, que desatenta, deixo o livro que era minha atenção posto ao meu colo, quase que escorregando de meus dedos, e ali, eu sei bem e assumo, foi a partir dali que já era tua.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"Sou tão misteriosa que não me entendo" C.L

-->“Sou tão misteriosa que não me entendo”, diz Clarice Lispector no livro, “Aprendendo a viver”. Toda vez que a leio, é como se eu fosse a própria Lispector, e já antes mesmo de continuar a ler imaginava o restante da frase ou da história, e lá ia-se -a: encontro de almas e pensamentos. Devo por certo ter uma espécie de encarnação de espírito dela em mim ou reencarnei-me na própria Lispector. E não é que eu queria sê-la; Sou eu: com minhas origens, meus valores, com minhas conquistas, com minha mente libertária e flutuante para escrita, com minhas cóleras e com meu amor pela vida. Informo-lhes que sofro muito pelo mundo. É difícil de explicar e de ter esse sentimento pelo mundo. Acontece que só sei que o mundo merecia um mundo melhor. Acontece que me dou tanto para esse mundo, que esqueço mesmo de mim. Não falo isso por achares que estou sentimental. Até a Lispector escreveu isso, e até nisso reencarnamos. É tanto amor nesse coração, que não sei controlar. São tantas de mim em mim mesma, que não sei qual de mim dá-se a esse mundo. É tanto desse mundo, que não sei onde está de mim nele. Mas pouco importa se o mundo me achas pequena demais à ele. Ainda que esteja de alguma forma incorreta; só sei que tenho amor demais em várias de mim e que vou me dando, de bocado a bocado até ficar sem o pulsar; ou até se o coração bater mais forte. Boquiaberto o mundo me recebe, não entende. Quem me lê não entende. E eu, oras, sem mim, já que por aí pelo mundo a fora não sei dizer. – Clarice Lispector disse, e balanço a cabeça concordando e suspirando mais calma: “Sou tão misteriosa que não me entendo”

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Primeira mensagem

Falar do amor agora em início do ano soa mais bizarro e meio superficial a ouvidos advantes. Parece aquela coisa de quê no início do ano, estamos com o espírito "diferenciado", "bem humorado" e "esperançoso" para o novo ano. Pois bem, falarei dele: Do amor. Cito brevemente de uma frase que via há tempos exposta num muro em uma das principais avenidas da cidade: “ O amor é importante, porra!”. Bem assim, com vírgula e porra no final.
É engraçado mais ainda tentar entender quem a escreveu, que com toda certeza manifesteu-se sem muitos darem-lhe a atenção devida. Quem a expôs poderia estar triste, amargurado, amargo, decepcionado entre tantos outros sentimentos que temos quando perdemos algum “amor”. Perder amor não é legal; Confesso. Mas é claro, que quem expôs a tal frase, pode também ter um grande amor na vida, e ser muito amado, e a tal frase foi caso somente para chamar a atenção, e mostrar tal importância. Ou talvez, o desprezo da familia e falta de carinho e atenção fez o feixe ser alvo de exposição na avenida da cidade.
Bem, pouco sei dizer. Posso na realidade, ficar imaginando diversas coisas e situações que despertaram-me sempre que lia a frase, e os por quês da frase. É claro que imaginava também se havia alguém que se aprofundava em frases dispersas por ai. Creio que poucos, muitos raros devem ter lido essa frase que diz algo tão simples, mas que por certo soa como devido apelo a nossa vaga e pretensiosa sociedade, e que certamente apoio o apelo.
O amor é importante.

E muitos só percebem nas tardes de domingo, ali, quando não tem o trabalho ou a rotina, percebe que alguma coisa está errada – já que a paz destas tardes é infernal, o tempo não passa nunca, e há uma constante irritação. E quando a segunda-feira chega, percebem ali, o fato de que nunca tem tempo para descansar, e os fins de semana passam muito rápido. E muitos machistas deveriam abaixar a cabeça por certas atitudes e coisas ditas as mulheres. E muitos daqueles que têm dinheiro, deveriam valorizar mais cada coisa que vive e não viver somente do tal prestígio e luxúria areditando que a vida vale a pena, por que somente assim que deve-se ser feliz. E esses muitos deveriam ver que enquanto desfrutam da luxúria, há ainda a guerra, e há ainda pessoas e famílias que vivem no nível de miséria absoluta. E muitos políticos, deveriam rever o conceito de sociedade e de cidadão e de igualdade. E muitos deveriam valorizar seus filhos, seus pais, seus amigos, seus amores, as flores, os animais, os livros da estante, a música no rádio, o sorvete, a bebida de fim de semana, as crianças que ainda brincam na rua ao invés do video game, o sapato novo, a roupa velha, o sorriso no rosto, a lágrima que caiu, o bom dia inusitado, o boa noite já esperado, valorizar as águas, o horizonte, pássaros, borboletas, moscas... E muitos deveriam orgulhar-se do passado que no presente anda bem diferente, e possivelmente melhor; E muitos deveriam amar mais. Amar as coisas simples da vida, amar a si mesmo, amar as coisas e todas as outras coisas das coisas, amar as pessoas e todos os movimentos. Amar é isso.
Acontece que sempre falamos do amor, moldando aquela coisa do “a quem posso amar”.
O amor exige algo muito simples na vida. A própria vida, o sonho, a inocência e o amor.
Falar do amor, em qualquer época do ano soa bizarro, mas apelarei: "O amor é importante, porra". E etc...