sábado, 5 de setembro de 2009

Sobre a alma

Desta vez, Maria, Mary ou Marie, descalça seus sapatos de salto alto.
Assim como os pés, a alma está cheia de calos. Parece castigo... caminha sutilmente com o peso que vão colocando sobre sua cabeça, sobre seu corpo e sobre seus pés. Caminha sussurrada, escondida numa vida sem graça, num mundo onde cavalos brancos ou pretos é seu sonho de liberdade. Caminha sobre o chão áspero, frio, nas pontas dos pés, como se não pudessem saber de sua presença; ou como se já soubessem, mas ela finge, e não quer fazer barulho; ou caminha nas pontas dos pés como se ainda estivesse sobre o salto alto.
Sobre o salto alto equilibra o corpo e a alma. Sem o salto alto, equilibra a alma. A alma cheia de calos. Segue em direção as escadas. Sobe a cada degrau com o sapato de salto alto em suas mãos. “Através dos sapatos, consegue-se saber muito de uma pessoa, através dos sapatos podemos saber onde ela foi, para onde ela vai, para onde ela quer ir”. Basta saber olhar, e interpretar. E você Maria, Mary, Marie... quem é você? Aonde quer ir? De onde viestes? Para onde vai? Para onde vai com o salto que não a deixa ao menos dar-lhe um salto adiante? Pisa firme, forte, segura, mas és uma sublime máscara cheia de beleza. Uma máscara advance, diante de algo belo, mas que não lhe traz conforto.
E agora, o salto em suas mãos querendo saltar para qualquer pé para dar-se a própria vida. E agora que estás descalças, com os pés firmes e sobre o chão. A cada degrau subido, quem tu és? Quem é você, já que não há mais nenhuma máscara bela, ou advance, ou sublime sobre os pés? Já que agora, descalça, não há o pisar firme e seguro, já que não há o desconforto? Quem tu és com os pés no chão?
Maria, quem somos com os pés no chão?
Mary, quem somos com os pés no chão?
Marie, quem somos com os pés no chão?
Desta vez, és o próprio pé, o próprio calo e o próprio chão. És um pé livre, com um chão imenso a percorrer.. a correr, a correr e caminhar junto aos cavalos brancos e pretos no bosque da vida. É um calo de alma. Uma alma de calo, cheia de calos, com algumas marcas de onde já caminhastes, com outras marcas de alguém que já a pisou com ferraduras nos pés deixando mais ferido, machucado.. ensangüentado. Alma cheia de calos, cheia de buracos. Na ponta dos pés, guarda os sapatos de salto alto. Na ponta dos pés os sapatos de salto alto ficam. Maria, Mary, Marie, equilibra o corpo e a alma. Alma cheia de calos; Calos cheio de alma.