quarta-feira, 22 de abril de 2009

Claro e escuro

Porque toda vez que olho-te o coração acelera, dispara, bate forte e quase e sai pela boca?
Era essa a pergunta que sempre fizera sem ter quaisquer tipos de respostas. Isto desde que mesmo com lágrimas nos olhos e com o coração ensangüentado, disse adeus.

Ela disse adeus.
Imaginem a cara de desanimo; De desamparo; de coisa mal feita: Ficastes boquiaberta! Naquele momento poderia até querer ouvir de Clara o não se vá. Eu te .. te ... mas não saía. Não saía nada daquela boca, daquela garganta. E não era mesmo o que esperava. No espírito que se encontrava naquele momento, não esperava ouvir nada. Era mais convincente o silêncio de ambas as almas, do quê qualquer palavra que ousasse causar mais espanto. Ficou esperando somente o abraço daquele adeus, daquele que estivera ao teu lado nos últimos oitenta e quatro meses. Exatamente oitenta e quatro meses. Não ser surpreendia mais com tal atitude, ou não atitude, mas o que parecia uma história bonita; enquanto ela acontecia, era feia, muito feia.

O tipo de relação que Clara tivera com Lacerda era de espantar os olhos. Uma amizade que confundia a qualquer vizinho: Era um namoro de amizade.

Lacerda era arteiro. Tinha dons para criar e inventar as coisas. Criava tão bem as coisas, que criou um tipo de amor que existe por aí. Desses que ninguém vê, mas todos acreditam. Clara era amiga de Lacerda. Mas Clara, também era a paixão de Lacerda. Paixão não assumida. Paixão escondida. O que Clara tinha no nome, tinha na pele, nos cabelos e nos olhos. Era quase sem cor; sem estímulo de vida; Acompanhava com sua clareza, suas roupas pretas e escuras. Clara era preto e branco.

Lacerda sempre fora o oposto de Clara. Tinha as idéias mais sensatas e os melhores conselhos. Os melhores discos; os melhores livros. Ah, e suas cores. Tinha todas as cores que Clara não tinha. Lacerda era... O que Lacerda era? O que era se não um artista, criador das cores e das coisas para Clara.

Era amigo de infância, da família. Conquistara cedo o respeito pelos amigos, inclusive o de Clara. Ela, que nunca se quer ousou sonhar e nem se quer pensou que Lacerda só se aproximou, porque havia se encantado com a vossa clareza. Deveria Lacerda dessa vez, ter sido mais claro, porque assim talvez a linguagem dita fosse a mesma - clara . Mas Lacerda teve medo. Sempre tivera o medo acompanhando-o durante o tempo. E quando tentou se mostrar teve medo em dobro. Logo você Lacerda: Arteiro, conquistador e salvador das cores. Por que medo?
O medo eleva as conseqüências.
Ninguém iria reparar, aliás, o casal fingia ser alguém que vive de bem. Quando Lacerda resolvera por fim, deixar de ter Clara em sua mente, em seu coração e em sua vida, recebera uma carta rara de uma amiga. A carta foi enviada sem muito anúncio, e sem ajuda de entrega pronta.
Foi num sábado à tarde que ao chegar a casa, vira uma caixa embrulhada com papel de presente vermelho e uma carta posta sobre o presente com seu nome: Lacerda.
Teve curiosidade em logo abrir e saber quem lhe enviara a surpresa. Mas levou seu embrulho para o quarto, onde abriu-o sem pressa. A caixa era uma caixa de chocolate não tradicional. A embalagem era de chocolates selecionados, e ao abrir a tampa da embalagem, encontra um recado feito em letra de mão corrida e bem feita escrito: “A vida é como uma caixa de chocolate, você nunca sabe qual o próximo sabor”. A frase no recado o-fez lembrar-se de um filme já visto.
Mas logo esqueceu o filme. Não pensou em saber dos sabores do chocolate da caixa, e foi logo abrindo a carta.
O amor de Lacerda ainda pertencia teoricamente à Clara, mas Lacerda tinha algum outro amor incomu, físico que já não a-via e nem falava à algumas semanas. Cogitou, achando que esse amorzinho havia dado sinais de saudades, e lhe escrevera por puro romantismo.

O coração, dessa vez bateu diferente. Nesse momento conseguiu por raridade não pensar em Clara, e já achava que o outro amor fosse lhe render uma boa história. Mas quando começou a ler-lhes as linhas da carta, logo reconheceu a letra escrita, e logo quis parar de ler, mas não parou e leu:

“Poderia começar falando de qualquer coisa para tentar não assustar-te com o que
tenho a dizer-te. Mas serei mais direta; Serei clara: coisa que nunca fui.
Parece que foi ontem, aquela foto que você fez preta e branca em minha homenagem, foi àquela foto que fez eu me manter perto de você. Foi quando te vi verdadeiramente pela primeira vez.
Eu tive medo de falar pessoalmente. Eu tive medo até na carta que estou escrevendo agora. Pensei que fosse brincadeira do tempo, mudança de humor, mas isso se permaneceu. Tentei viver de bem com outros amigos. Com outros amores. Com o pouco que sobrou. Tentei viver vendo você com outros amores, com o pouco que te sobrou, mas somente tentei.
Tentei e ninguém viu.
Devo estar agora no quinto andar, enquanto você lê. E enquanto você lê, o tempo passa. O tempo passou amigo. Agora faço anúncio, porque não suporto mais viver assim.
Deus sabe como vivo. Deus sabe o quanto eu sempre quis te proteger. Protegi-te tanto, que me esqueci de mim.
Não existo mais! Não existo mais porque esse amor pulou a janela do quinto andar, e devo agora estar estirada no chão. Hoje a fé deve ter me abandonado.
A fé que eu tinha em construir um mundo melhor se foi. Sem fé por onde devo ir?
Eu fingi durante esses oitenta e quatro meses ser sua amiga. E realmente fui. Mas tudo deu um nó: eu queria seu amor; eu queria você. Eu queria a coragem de poder ter lhe contado antes, mas eu nunca a-tive.
Posso me chamar Clara, mas nunca fui clara o quanto deveria com você.
A foto que você fez olhando para mim. Guarde-a! Guarde-a como se fosse ontem. Parece que foi ontem Lacerda... Parece! Mas foi hoje, foi hoje que você deixou de existir em mim.
Mas saiba que sempre te amei. E toda vez que ia ao seu encontro, meu coração chegava primeiro, porque meu coração disparava mais do que um despertador.

Disparava! Disparava, e agora meu coração vai descansar e parar.

Lacerda, como eu te amei.”




Beijos raros e nunca dados, Clara.