domingo, 19 de julho de 2009

O Susto


Todavia, a coisa que eu menos esperava, ocorreu-me. Como um susto que se leva quando criança como com medos de fantasmas acreditando fielmente que eles, os fantasmas, existem.
Eles existem.
Mas não fora se quer um fantasma, pálido ou negro de vulto aguçado pelas sombras que me deu esse susto. Da forma mais bela que pudesse me entregar, estava direcionando ao caminho. Caminhava calmamente, com pés firmes ao chão para saber bem, conhecer bem da terra que pisava. Olhava, observava cada movimento feito. Ouvia bem tuas palavras. Lia as bem também. Tentava descobrir que cheiro era o teu. Mas não sentia cheiro algum, e por ousadia, criava então o cheiro de pétalas vermelhas arrancadas de uma rosa do rosário extremamente aveludado. Esse era o cheiro que tinhas. E foi depois de criar teu cheiro que comecei a assustar-me. Assustei-me por que também criei que essas mesmas pétalas aveludadas da rosa vermelha, poderia ser as mesmas que me cobrisse no velório. Que me velasse na sepultura.
Mas pior ainda, é agora depois do susto, ver que é esse o cheiro que terás em tua morte.
E você, que nem se que nasceu por completo, está pensando em morrer no meio do caminho.
No meio do caminho que eu transitava entre pessoas feias, mal humoradas, umas belas, outras bem ou mal amadas. Caminhava com um único pensamento; com uma única certeza: a de não ter dúvidas, somente certezas.
Tenho certeza! Tenho certeza que vossa morada espere que não me cales, que eu corra; Que eu corra demais até cair, ralar os joelhos, machucar os cotovelos, quebrar os dentes. Tenho certeza que vossa morada tão eficiente nos detalhes, não apagara tão facilmente essa imagem. Tenho certeza que irá esperar no mesmo lugar de sempre. No mesmo lugar. Tenho certeza que querias esse coração aqui, meu, tão meu... tão feio e frio... Ensangüentado e machucado.
Tenho eu, essa certeza, as sua angustia pela vida e aflição de tua própria ansiedade, não deixaste ver a verdade: A realidade, como lhes disse em uma de nossas conversas “–A realidade é sempre outra”. A realidade, na verdade é outra. Sempre será. A realidade, é que não podemos nós, seres humanos tão inumanos, tão desumanos tirarmos nossas próprias conclusões. Achar que o rato não presta, só por que ele é feio. Achar que o príncipe porque é belo, te farás feliz para sempre. E a princesa, ah, a princesa, não se pode achar que é perfeita como uma porcelana.
A realidade, na realidade é que deverias vir a mim e não aos seus próprios pensamentos.
A verdade na realidade, é que agora, envergonho-me até de minha sombra, que estava acreditando que o mundo podia ser melhor. Tenho certa pena de mim, mas não me culpo como a principal do drama. Tenho pena, pois estou velha, cheia de cabelos brancos, começando a enrugar a pele e ainda tão inocente; Sonhadora diante a vida, diante a morte. Diante as muitas mortes.
Mais uma vez, morri.
Todavia, a coisa que eu menos esperava, ocorreu-me. O susto de mais uma morte. Mas não se surpreendas acreditando que agora já era de mim. Não sei bem quantas vidas tenho, e nem quantas já vivi. Mas não será desta vez, que verás minha alma querendo grudar na sua.
Tenho bom senso. Posso ser ainda inocente, criança até, mas não sou tonta. Pelo menos não por enquanto a ponto de saber que sou ou não.
Só queria compreender por que não me compreendes. Por que enquanto olho-me no espelho, não compreendo. Enquanto vou olhando, não reconheço meus traços, minha pele, minha boca, meu olhar. Não reconheço nem mais meu corpo, que se transforma numa constante eloqüente transformação. Por que não compreende?
Por que não compreendes o que ocorreu?
Todavia, o que eu menos esperava, ocorreu-me: não o pudor de ser os fantasmas que assustam a minha própria alma, mas o pudor de uma linda e bela flor nascendo da terra... nascendo como se fosse ser dona do mundo. Dona do mundo. Como se fosse o próprio mundo, a própria terra, a própria flor. Todavia, as cores que não conheço. Vou contar-lhes o que ocorreu: com o maior medo do mundo, de meu próprio espelho, o susto: apaixonei-me por ti.