segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Sem poesia

Perdi minha poesia. Procuro-a em uma dessas esquinas, e saio passo a passo como soa o som desse piano... e saio, rodopiando, rodando, para lá e para cá como bailam as bailarinas.
Procuro a poesia que não tem cor ao certo. Possa-se ser violeta e amarela... como os encantos das flores. Possa-se ser sem cor alguma, e na ausência total de cores, possa-se ser negro, preto. Ou simplesmente vermelho fervendo, cheio de morte, cheio de vida.
Ah, não. Essas cores têm muita é vida, e sei bem que minha poesia não caberia nessas vidas.
Poesia preta, branca, sem cor; sem vida. Em silêncio, mudo, como filmes antigos.. atentos. Poesia sem imagem. Sem desdenho algum. Sem cheiro; sem destinatário, sem remetente; poesia aversa... ausente.
Procuro-a como um dono do cão perdido, salientado de sua dor e saudade. Obstinado no que viveu. Procuro a poesia que não há como sentí-la, somente viver-se-a. Vive-se a poesia. Vive-se a vida. Procuro-a por que sei que estou ausente de mim mesma. Estou eu, ausente de todas as cores, os cheiros, os endereços, os sentimentos. Estou somente como as teclas do piano...
.. passo a passo. Nota por nota, atenta, com pressa. Faço barulho no piano, faço barulho... acelero os passos, as notas, a mão não descança nesse teclado. O preto e o branco. Por pirraça, procuro às pressas, acelero as notas, procuro a poesia. A poesia bailarina. Rodo, rodo ... para lá, para cá, e para todos os lados. Padam, padam, padam... padadam.. padadam, pada, pada pada padadam, padam.
Perdi minha poesia, e ela se perdeu em mim.