sábado, 15 de novembro de 2008

Reflexo

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Já não sei mais no que me transformei. Tenho os olhos mal pintados, com resíduos de um sono profundo e um mau humor insuportável.
Deveria estar feliz, e agradecer, pelos os meus sábados e domingos, mas até eles perdem a graça depois de uma jornada sem graça de viagens com trânsitos desagradáveis, de ônibus cheios de gente, numa romaria de reza seca e vazia.
Todos assistem a inacreditável vida. E como novelas não mudam o canal.

E por mais que eu tente, já não suporto mais as caras que tenho que mostrar. Já não suporto mais parecer algo que não sou eu: a camisa branca, o salto alto e o “bom dia“ no verbo. Tenho tentado ser feliz assim. Mas assim já não consigo ser mais feliz. Tenho tentado falar daquilo que entendo, mas só eu entendo.
E no eu modo ‘tolerável,’ carrego na bagagem imagens de pessoas frias e pretensiosas.
Hoje você dá o pão e recebe um tapinha nas costas. Amanhã você não tem o pão e leva o tapa na cara.
Já não entendo mais no que me transformei.
O coração acelera mais do que devia, me causa desmaios do corpo. E a alma sofre calada pelas coisas estranhas que vivo, que sinto e que penso.
Às vezes, eu queria ser um “normal”. Mas o normal pra mim é sempre diferente pra você.
E às vezes, eu não queria ser nada. Nem líquido e nem gasoso.
Os meus estudos me deprimem. O meu trabalho me deixa muda.
Tenho estados alterados de consciência, e as únicas coisas que ainda me condicionam são: meus cigarros, a caipirosca e minha amiga.
Já não sei mais no que me transformei.
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