quinta-feira, 11 de junho de 2009

Carta de Cristina Green

Pois bem, cabe-me ressaltar o que é a verdadeira vida: amar.
E simplesmente como se fosse novidade, fica a cara de quem lê, mas a minha que aqui está bem exposta e mal lavada, não é de surpresa essa exposição: Boquiaberta: é de incompreensão.
Vocês não sabem como é se sentir viva e cheia dela – da vida, vendo todas as cores, conhecendo todos os cheiros, os odores, sentir todas as pessoas, as almas das pessoas e mesmo assim, morrer. Depois que morri, morri. E renasci; e morri já tantas vezes nesses vinte e poucos anos. Vinte e poucos. Trinta e poucos. Quarenta e poucos.
O difícil não é nascer. É morrer. Ainda não morri por inteiro, por completo. E por enquanto nem quero. Porém continuar a viver com tudo que nos - fragmenta a cada momento, a cada instante e a cada um de nós – isso é difícil. Continuar a viver deixando a nossa soberana alma carregar a invalidez pelas cousas e para as cousas – isso é difícil. Carregar a vida numa amarguês pertencente a todos, criado desde quando por si nascemos. E nascemos todos tão lindos, puros... Com peles macias, olhares perfeitos. Para se transformar numa espécie continua de arrogância, de mau humor e egoísmo. E o meu nessa hora, simplesmente clama aquilo que acabo de ler: ”O amor é importante”. Daí, nossas caras deixam de ser macias; os olhares se perdem nas malícias criadas por acreditar-se que precisa ser assim. Nos - perdemos no materialismo e nas muitas mortes que tivemos e fazemos desde o primeiro nascimento. Daí, fazemos aquilo que chamamos de suicídio: assassinatos a si mesmo; em lento processo. Daí fica somente o corpo empurrando com a cabeça que acredita que pensa, e com a barriga que somente fica larga. Largo, ficam os olhos para o luxo e a súplica persistente que segue: ”– Deus olhai por nós”.
Ainda não entendo a miséria, nem a luxúria. Não sou nenhum desses dois.
Ousaram me animar dizendo que sou preciosa, que sou pérola que sou um brilhante... Que sou. Animaram-me até. Mas não há quaisquer dessas de mim nesses meios. Não há nada de mim por aqui. Os últimos cinco anos foram dos que mais nasci e morri. Não sei bem quantas vezes. Vivi das formas e maneiras mais absurdas. Suportei aquilo que menos suportava. E hoje eu já não sei o que há de mim em mim mesma.
Numa dessas mortes, perdi aquilo que era das principais de mim, em mim. Há pedacinhos perdidos que sempre tentam ressuscitar. E muitas vezes ressuscitam todos entusiasmados. Mas quando menos se espera, é morto. Dissipado. Jogado na cadeira elétrica.
Não há ainda como renascer dessa que não existe mais de mim, em mim. Toda vez é assim: começa igual a um bebê: inocente, insípida e de repente, a surpresa: Kabum.! Blaft! Não suporto mais a própria cara de besta no espelho, a cara de todos que vejo. Os sorrisos medíocres, os olhares falsos, os abraços vagos.
E por mais que eu dê de mim, a mim mesma e para todos. Foram-se cinco anos. Cinco. E nos últimos dois, arracaram-me a principal parte do corpo. A principal. Agora, vou empurrando. Empurrando o corpo, somente o corpo, por que a alma, essa pode até ter ficado algumas vezes vaga e cheia de calos, mas nunca morta.
Eu fui e sou somente mais uma casca nesse mundinho. Mais uma migalha, mais uma menos verde. Nem feliz, nem infeliz. Apenas verde. Transbordando amor voluntário, involuntariamente.
Ressalto, a verdadeira vida é amar.