sábado, 22 de maio de 2010

Ludibrioso convite

Pareço ter voltado à adolescência, bem como quando tinha a cerca da mente os sonhos mais deslumbrantes e encantados que qualquer menina de seus quinze anos possa-se ter. E foi assim que fiquei e que me deixara diante o sonho mais que surreal de príncipes encantados. Os príncipes encantados existem. Todavia que deva eu é fazer pergunta ao invés de, de fato afirmar. Os príncipes encantados existem? Se bem que enquanto há amor, há encanto, e o príncipe logo existe; Se bem que enquanto há encanto, há príncipe e há amor.
Há amor por vez e ainda nesse círculo de mundo que apela pela mídia já dita apelativa; pela luxúria extrema nos meios entre desigualdade e pobreza absoluta. E se agora me sinto e estou como adolescente, como menina demais, não sendo uma flor, sendo apenas um broto, um botão, com seus espinhos vivos e pontiagudos, não devo estar diante a realidade que é esse mundo. Não, não estou. Estou dispersa entre “sonhos de uma mulher” e entre “sonhos de uma menina”. Dispersa entre a rotina diária do trabalho e antemão do dinheiro, é claro. O dinheiro sempre mexe com o coração e cabeça de qualquer um.
Pois bem, voltei à adolescência. O dinheiro ainda não mexeu com meus neurônios. Sou agora menina confusa de seus quinze anos, que depois de tanto tempo adormecida, tornou-se bela; e antes do fim, tornou-se adormecida novamente. Sempre ao modo ao contrário.
Fora quando o príncipe alto, cabelos louros e raspados, óculos de grau de armação grossa da Gucci vinda da Europa, bem com seus trajes sociais e casuais que acordara a adormecida e mexera de vez com os neurônios, cabeça, coração e toda e qualquer parte do corpo. O coração veio à mão, e descontrolada a mão ficara, tremia, balançava, pulsava como só o coração pulsa com sua forma única. Na boca soavam poucas palavras, por que ao mesmo tempo em que estava ansiosa por ele naquele momento estava também com uma felicidade incontrolável, estava boquiaberta, com um sorriso lançado de forma discreta pelos cantos dos lábios, estava muda e com o coração pulsando, acelerado. Parecia que eu não acreditava no que via. E eu não acreditava, eu só via. Mas isso foi depois de descer do ônibus. Mexer nessas lembranças parece mais como dé jàvus, onde temos fortemente a sensação de que aquilo tudo que aconteceu já acontecera antes, e acontecem como se já soubesse que havia de acontecer, quando na realidade nunca ocorreu. De fato que inédito para os meus olhos e para o meu coração pequeno e pulsante fora. É, estas vendo, é bem assim que acontece com o coração de qualquer menina com seus doces e sangüentos sonhos: Deixa tudo belo, mas também deixa a tudo complexo.
Complexo foi tentar entender os seus passos dado. Não acreditava realmente no que via. Apertei a chamada campainha do ônibus, que era o “sinal” ao motorista de que iria descer. Aliás, já faziam cerca de nove meses fazendo exatamente o mesmo trajeto e caminho. De surpresa ficara meu pequeno coração pulsante; É que sabia bem que ele sempre descera a dois pontos depois do meu. Enquanto aguardo o ônibus parar para enfim descer, dou-lhe um “tchau”, e “até amanhã”, e ele levanta-te do assento; Naturalmente me olha e me sorri. O coração pulsa de alegria. Alegria incerta, mas pura alegria. Tentava eu imaginar aonde é que irias o tal príncipe que em seus bons modos e hábitos, desceria a dois pontos antes do devido. Como já havia por beleza criada dele, trocado palavras o suficiente para interrogar-te, assim disse: - Para onde você vai? É que ...
Parecia não acreditar no que via. No que iria ouvir, e não acreditava. Não dera tempo nem de completar a frase: - É que... E o príncipe sutilmente com seus belos lábios europeu e voz forte, responde: - Preciso passar ali no supermercado.
Sem nexo algum, laçava teu olhar de forma diferente ao meu. E assim simplesmente respondi; sem resposta alguma com olhos mudos, ansiosos.
Acontece que há tempos vinha eu de forma mais menina e juvenil desejando a bela companhia para todo o sempre. Acontece também que pouco sabia quem era bem o príncipe para dispor-me para todo o sempre. E como na verdade queria-o para mim, como Deus o fez, com teus belos olhos e inusitados que me falavam coisas sem ao menos mover os lábios. Já fazia tempo que pedia a Ele para direcionar meu caminho; E assim Ele o fez.
Eu realmente não acreditava no que via. O ônibus pára; a porta abre-se; desço na frente com todo cavalheirismo dado. Espero o sem saber tal projeção. Ele logo segue meus passos. Ao andar, ele pergunta onde fica o prédio que vou. Ansiosa, respondo-o; - É logo ali há dois quarteirões. Ansiosa, deixei o silêncio suprir minhas palavras e ele logo completa: - Vou ir com você? Pode ser?
O coração pulsa. Aceleradamente, fico a esmo, boquiaberta, boba, sorridente.
Sem dúvida alguma me importaria com sua presença ao meu lado, e por Deus, como eu esperava por aquele momento há tempos. Não quis demonstrar minha alegria e entusiasmo para não ser mal interpretada, tímida e discreta perguntei apenas se não ficaria muito longe para ir para sua casa, se não iria atrapalhar, aliás, havia dito que passaria no supermercado... – Não, não vai atrapalhar. Eu gosto de caminhar, ele diz.
Caminhando lado a lado, atravessávamos os dois quarteirões. Já tentei por diversas noites mal dormidas lembrar-me do que é que conversávamos até chegar ao prédio. E eu não me lembro. Era tanta alegria que só sei que sorria. O coração trêmulo – pulsante. Ele, príncipe, com sua bolsa transversal, usando malha azul, olhando para onde quer que eu olhe até a chegada ao prédio. – Pronto, chegamos! É aqui que eu estudo, eu disse. Estávamos na entrada principal do prédio, na Rua C. Popular, e o príncipe soa um comentário que deixara a mim surpresa. – Nossa é diferente, eu nunca vi. Daí, eu tão sem palavras respondi com sorriso. Percebi que ele estava encabulado com alguma coisa, mas que queria me dizer algo. Bem eu já disse que eu estava trêmula, pulsante, acelerada, como agora ei de estar. Exatamente como estou agora, enquanto vou traçando essas linhas, essas lembranças no caderno de anotações a mão treme a cada letra feita, o coração acelera fortemente, os olhos enchem-se d’água. Saem tortas as letras por dizer como é que eu estava naquele exato momento enquanto estava com ele. É que encarnei o momento, é que também estou como uma adolescente agora. Exatamente agora.
Meus olhos brilhavam diante aos dele, e ele olhando-me com simplicidade e posse diz logo de vez; - O que você vai fazer hoje? Enquanto ouvia tuas palavras, logo flor me transformava. Fora ali que acordara ao botão de flor que adormecia em seus próprios espinhos. E parecia não acreditar no que via. Não demorei muito para responder, foi só o tempo de procurar respiração e dizer-lhes: - Vou sair um pouco tarde da aula, e ir para casa, mas por quê? E ele logo completa; - É que eu quero sair com você, pode ser? Eu não acreditava no que ouvia. Queria é ter gritado para o mundo ouvir eu dizendo claramente que sim. Era sexta feira, atrelada na rotina tinha o cansaço da semana que terminava. Não queria perdê-lo de vista. Queria-o. Eternamente queria-o. Mas já era sexta feira e se eu saísse naquela noite, não ia é agüentar. Como alternativa certeira, disse que aceitaria sair sim, só que intensifiquei se podia ser amanhã, sábado. – Pode ser, perguntei-lhes. Ele responde de forma simples, e admirável, - Pode ser.
Acredito que qualquer palavra que eu pudesse ouvir mais adiante, não interferiria na minha principal vontade de conhecê-lo mais e mais; Aliás, queria-o para todo o sempre. Possa ser que eu esteja errada, mas sentia uma paixão absurda para os dois lados, suas palavras saiam quase sem sentido, gaguejando-as, já as minhas saiam tortas, trêmulas. Não vou deixar de citar é claro, que via o brilho nos olhos dele, o príncipe, por que eu juntava todo o contexto e só me fazia um único sentido: Não existia o supermercado, não existia a caminhada, não existia o incomodo de descer dois pontos antes do seu devido ponto; Anexava suas palavras ditas, seus olhares, a mão dele que também tremia suavemente: Era o que ele realmente queria, convidar-me a sair. Via o quanto se esforçava aos modos “brasileiros” que nada lhe pertencia, mas logo vieram os problemas: - Aonde iremos? Eu acho que não sei mais sair, é que faz tempo, indaguei-me. Realmente fazia tempo. E o príncipe logo deixa o mundo em minhas mãos trêmulas: - Ah, eu não sei, você quem é a brasileira aqui. Com o sorriso meio aberto, disse que podíamos fazer assim: falamos-nos mais tarde, e combinamos, pode ser? Pode ser sim, claro, mas como vou falar com você, ele completa.
Era mesmo uma adolescente que como se nunca tivesse recebido um convite para sair que ali estava. Tudo que eu mais queria era estar junto dele, e eu não sabia nunca como agir. É que não acreditava no que via.
Percebi naquele momento que os dois estavam ansiosos para “aquele momento”. Os dois sorriam sempre um para o outro, com tanta graça, como adolescentes apaixonados, bobos e encantados, sorrindo simplesmente um para o outro. Quase que não se via os olhos do príncipe; o esforço lançado no seu rosto ajudava a deixá-los com olhos pequenos, verdes, puxados e pequenos.
Como admirava a cada movimento. Como o príncipe admirava-me a cada movimento. Ah, se pudesse parar o mundo por ali, ficar a admirá-lo a cada traço de teu rosto, colocá-lo em meus suaves braços, e sentir fortemente o gosto de tua boca. Intimidei-me; acreditava que não era o momento. Anotamos assim, o número de telefone um do outro em nossos aparelhos de celular. Oras, como é que pude me esquecer, lembrei-me que enquanto atravessávamos os dois quarteirões ele me ensinara como se pronunciava o teu nome, que aprendi a pronunciar somente um tempo depois, apesar de ter em meu sotaque o “r” arrastado, teu nome não era simples para mim. Era como uma criança aprendendo a soletrar as letras, formando as sílabas, até tentar soar correto seu nome de origem européia. E ali, quando me passava o teu número de telefone, ele soletrava atencioso o teu nome." Em honra ao teu nome, eu dou-lhe meu amor", eu pensava e concluía. Ao terminar de anotar e “salvar” no aparelho, ele confere, anota o meu e deixamos um ao outro a promessa de nos encontrarmos no dia seguinte para sair por aí, conhecer um pouco dessa grande São Paulo ou simplesmente ficar num canto só, conhecendo somente um ao outro.
Como o coração tinha pressa naquela noite de sexta feira. Parecia mesmo que o coração queria fugir de mim, e assim ir-se com o príncipe em seu colo, em suas mãos, em sua bolsa transversal ou até mesmo em seu coração. Pareço mesmo ter voltado à adolescência, cercada dos sonhos, sentimentos e emoções dos mais deslumbrantes que qualquer menina possa-se ter. E voltei realmente à adolescência. Tinha certo orgulho que encenava ao perceber ali, que nunca havia de ter recebido um convite, assim, de forma tão simples e sincera como pôde ser. Já meava meus vinte e três anos e tudo que sempre recebera anteriormente, eram cantadas baratas, fracas, e o quê sempre ouvira dos rapazes e homens eram nada; simplesmente nada, por que sempre vinham com assuntos medíocres e masculinos, assexuados que só os anti românticos sabem dizer.
Lembrar-me de momentos tão simples, bobos, mas tão belos como estes, faz-me crer ainda que amores, príncipes, contos, paixões não estão somente nos livros.
Foi a primeira vez em que encostei meu rosto ao dele; Despedi-me com um beijo em teu rosto – pele branca, cheirosa, perfume importado, bom de cheirar, queria é ter ficado ali, com meu rosto próximo ao dele, e sentir um pouco mais do teu cheiro em seu pescoço. Caminhei olhando-o aos olhos. Acenei para ele, e ele me responde levantando a mão direita, com o sorriso feliz e encantado. Subo os três degraus que havia e me deparo com a multidão à frente. É sempre engraçado andar em direção contrária de pessoas com rumo quando se perde o rumo. Só sei que segurava bem firme a bolsa vermelha, pois era lá que estava o aparelho de celular – era lá que guardava ele, meu caminho a ele, para ninguém pegar, para ninguém ver, nem sentir o cheiro que era bom, e muito menos olhá-lo. Depois de traçada a vida com o príncipe, recuperei algo que havia perdido e não tinha na adolescência: A inocência. Amar exige inocência, exige sonhar e principalmente interesse de ambas as partes. Pareço mesmo ter voltado à adolescência. É bem assim que acontece com o coração de qualquer menina com seus doces e sangüentos sonhos: Deixa tudo doce, ludibrioso, sutil e doce.