domingo, 7 de março de 2010

Você

E já se passaram mais de trinta dias. Mais de sessenta, mais de noventa dias. Um semestre. E por certo estou é perdendo as contas do tempo. Só sei que ainda tenho por ti o mesmo sentimento de um ano atrás. É; eu ainda me encanto e suspiro cheia de sentimentos lembrando de ti; São tolices... “São tolices” dizia uma música no ano em que nasci. E quando penso em verdadeiras tolices, perco o sentido. O tempo sempre é preciso para mostrar que nada realmente é por acaso. Já se passou um semestre: um semestre sem notícias tua, sem saber exacto onde estares, sem vê-lo. Sem olhar-te aos olhos depois de uma suposta despedida que já era a despedida e eu só descobri duas semanas depois que nunca mais o veria. Um semestre que tenho vivido da maneira mais natural e “profunda”, onde realmente tenho visto tudo e tenho sentido tudo, mas aqui em minha memória e em meu coração carrego você, a tua imagem, as tuas palavras, o teu gesto, o teu carinho, o teu amor. E sem romarias e com todo preciosismo grito: que saudade de você.
Distraio-me com minha rotina; o trabalho é meu aconchego, os estudos minha salvação, os amigos a cura, o mal humor a doença, e no sorriso fica a ausência.
E é bem assim, vejo e logo sinto. Penso e logo escrevo.

Vou escrevendo e já estando. Já vejo tudo, e digo, e escrevo: O dia em que encontrar-me novamente contigo... Ah, oras, o coração deve é parar de vez. Já sinto as pernas bambas como se estivesse ao teu lado. As mãos perdem a força e o controle, e na boca poucas palavras, por que sairão tortas. Estou paralítica. Olhando-o como se fosse a primeira vez. Talvez dessa vez eu olhe-o de cima para baixo. Talvez ainda de tanto olhar já derrame uma lágrima como faço agora ouvindo o mesmo álbum que ouvia quando te conheci Seamese Dream dos Smashing Pumpkins. Talvez somente consiga fazer isso, derramar de vez as lágrimas que segurei quando disseste que ia partir. E me lembro bem, nós dois, postos numa mesa do café, eu olhava-o atenta, você brincando com a xícara de chá que tomava, e eu sem fome ou sede alguma somente olhando-o e ouvindo-o, você fazia caretas e falava com o “bico” mais preciso que todo francês tem, eu já ia entendendo todo o final, e foi ali que segurei as lágrimas que derramo até hoje. Não sei se realmente se minhas palavras sairiam novamente para ti, acho que faria com nos filmes do Charlie Chaplin, falaria com os olhos. Faria cena muda. E sem dizer uma só palavra você me entenderia. E me entenderia se eu ficasse ali, parada, olhando.
Seria inevitável encontrar-me aos teus olhos novamente e não sentir o coração mais forte. O pulsar incontrolável. Seria inevitável não derramar a lágrima. E não falo isso por ser extremo ou estar romântico, não. Nem falo isso por achar que dessa forma eu iria comovê-lo, isso nem iria mover o movimento de teu nariz. Falo isso por que não teria nada a lhe dizer; o que queria dizer eu já lhe disse, mesmo que não tenha me dado ouvidos. Somente olharia a ti como a primeira vez em que o vi: a luta discreta de poder e desejo, olhar de como já quem o pertence, como se já pudesse entregar a alma. E soaria no tom mais manso de minha voz... “feche os seus olhos”, ou ...'Fermez les yeux'... tocaria teus lábios com as pontas de meus dedos direitos, acariciaria teu rosto e chegaria até tua nuca, num suspiro, os olhos já bem cheios d’água soltariam suas lágrimas. Daí continuaria dizendo-o mansinho: “feche os seus olhos... e veja...” ..' et voir'... Sei que doeria muito mais em mim do quê em ti, mas o deixaria ali, paralítico, parado, sozinho, assim como deixou-me: Semi-paralítica.
Já se passaram seis meses. E tenho ainda saudades de ti.