segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"Sou tão misteriosa que não me entendo" C.L

-->“Sou tão misteriosa que não me entendo”, diz Clarice Lispector no livro, “Aprendendo a viver”. Toda vez que a leio, é como se eu fosse a própria Lispector, e já antes mesmo de continuar a ler imaginava o restante da frase ou da história, e lá ia-se -a: encontro de almas e pensamentos. Devo por certo ter uma espécie de encarnação de espírito dela em mim ou reencarnei-me na própria Lispector. E não é que eu queria sê-la; Sou eu: com minhas origens, meus valores, com minhas conquistas, com minha mente libertária e flutuante para escrita, com minhas cóleras e com meu amor pela vida. Informo-lhes que sofro muito pelo mundo. É difícil de explicar e de ter esse sentimento pelo mundo. Acontece que só sei que o mundo merecia um mundo melhor. Acontece que me dou tanto para esse mundo, que esqueço mesmo de mim. Não falo isso por achares que estou sentimental. Até a Lispector escreveu isso, e até nisso reencarnamos. É tanto amor nesse coração, que não sei controlar. São tantas de mim em mim mesma, que não sei qual de mim dá-se a esse mundo. É tanto desse mundo, que não sei onde está de mim nele. Mas pouco importa se o mundo me achas pequena demais à ele. Ainda que esteja de alguma forma incorreta; só sei que tenho amor demais em várias de mim e que vou me dando, de bocado a bocado até ficar sem o pulsar; ou até se o coração bater mais forte. Boquiaberto o mundo me recebe, não entende. Quem me lê não entende. E eu, oras, sem mim, já que por aí pelo mundo a fora não sei dizer. – Clarice Lispector disse, e balanço a cabeça concordando e suspirando mais calma: “Sou tão misteriosa que não me entendo”