terça-feira, 5 de agosto de 2008

Amadurecendo

Desta vez não queria escrever. Não queria pensar em nada, e não queria ser nada. Não hoje. Mas talvez não seja isso.
Nessa ociosa contagem, já se passaram trinta dias. Trinta insuportáveis dias. Sendo mais um número na lista de desemprego. O prazer já no tormento, se tornando cada vez mais um símbolo do inferno e desinteressante. Cada dia, a luta com a assustadora esperança.
A esperança talvez seja o meu pecado maior.
Passeando involuntariamente essa semana pelas ruas e avenidas da cidade, como se fosse uma obediência, encanto-me e comovo-me com tudo aquilo que foi criado por Deus e pelos homens. Ou, pelo menos as palavras e os fatos modificam o meu pensamento nesse momento de passear. Mas não é só isso.
Comovida por um manifesto visto numa dessas avenidas em que passeava, observava de uma maneira absurda todas as pessoas a minha volta. É como se eu fosse o centro da atenção naquele momento e tudo ficasse de uma forma mais lenta naquele observar. Aquele movimento louco de pessoas tão superficiais, nessa sociedade vivida somente por aparências. Todos ali, juntos, mas tão individualistas. Brigando por algo que deixa em alerta a escuridão da ignorância.
Eu sacudia a cabeça, pra ver se entendia. E não entendia.
Na verdade, é porque é tempo de eleição. É tanta afetividade, que quase acredito que eleição pode ser uma época muito boa para quem tá carente.
Como se não tivesse mais nada relevante para fazer, leio. Leio tão absurdamente que estou começando a enlouquecer. Risonha pela minha única riqueza, e humilhada por ainda não ser uma flor. Confusa, infeliz e feliz; me tornando um menina odiosa.
Para aquilo tudo que definitivamente faria um dia e um futuro mais bonito, a confissão de uma conversa transforma monstruosa essa vida.
Nesses últimos trinta dias, meu mau humor aumentou numa velocidade destrutiva numa briga de duelo entre mau humor e ansiedade. É o mal de uma sociedade industrializada e comercializada.
Há muita coisa que me incomoda. O ar que respiramos tem-me incomodado. Não só porque fumo. Mas porque também há quase trinta dias não chove.
Entre algumas coisas que pude escolher, o pensamento me ocupava. E voltei à sete anos atrás. Foi talvez, por tudo que pensei, respirei e bebi; misturei um conjunto de coisas. Na pressa, acelerei meu coração, retroagi e pensei. Da mesma forma que a boneca aqui pensava, eu pensei. E me via em desespero, indigna na frieza de minha compostura de boneca quebrada.
Foi apenas um momento.
Resolvi me manter ocupada, na ameaça do pecado por ter nascido cheia de erros a corrigir.
– Aqueles olhos ainda me chamam! E o futuro ex mantém-se indeciso.
Parece historia: querer ser quem eu era, e não me decido nunca por qual de mim eu não posso ser.
Difícil. Eu, tão branca e pálida, com os olhos ainda abertos naquela madrugada. Sem perceber eu já não era mais um moleque, porque eu não era um moleque. É que não me lembro. E não consigo imaginar com que palavras de criança teria eu exposto um simples sentimento.
Mas pela moral oposta, acordar o gigantesco mundo que dorme é um risco.
Porque é sempre assim? É só um serviço/benefício se popularizar, para as pessoas de poder aquisitivo ficarem com desgosto porque a sociedade está acompanhando o seu nível, que eles inventam um beneficio menos acessível.
A diferença (desigualdade) vai sempre existir, e adivinha onde? Num pesadelo! No qual, sorrir sempre fará parte do show.
Alias, não me importo nem um pouco do barulho que tenho feito, seja de minha música ou de meus pés. Ainda abro minhas garrafas, encho meu copo e tento me refugiar no meio de meus iguais: As crianças. E com elas, entre paredes vermelhas, num ambiente que eu desconhecia, todas ali com os corações imprudentes, como se estivessem num parque de diversões. Bebiam, comiam e cantavam do pecado.
No meu ruído e silêncio. O raro fato acontecia: Chovia! Caminhei na ponta dos pés e resolvi tomar um banho de chuva. Duas crianças seguravam minhas mãos, falavam de coisas que sempre ouvia meu nome. E molhava meu rosto na chuva. Num arrepio, concentrava-me inconscientemente naquele sorriso e no meu repentino silêncios.
Bem devagar, acordo, levanto. A brisa que passou pela porta, pelos punhos, pelo impulso de correr. Sonâmbula, em boa companhia o tempo passa,e meu coração com sede.
No meu trago o susto anterior. Esperançosa sempre,descubro algo. Como quem descobre um tesouro e disfarça: Preciso parar de beber.
Precipitei-me. A idéia era outra. Isso seria o castigo da tortura eterna de uma punição.
Hoje me entupi de café, talvez para me manter acordada. Sem compreender. Fraca, invento toda trêmula a cura para o mal. Sempre fui uma menina muito curiosa, e para minha palidez o tesouro está escondido onde menos se espera.
Numa antiga arrogância, não basta onisciência.
É, é difícil me amar.